📌 3º. ANO => ENSINO MÉDIO👀
🙋 PARA REVISAR A AULA DE: 06/08/2021
Iniciamos
nossa aula de segunda-feira (06/08/2021) com a manchete da revista Veja (Editora ABRIL, edição 2750, ano 54 – no. 31,
11 de agosto de 2021): “VIDAS SECAS:
O Brasil vive a mais longa e intensa
estiagem de sua história. Efeito das mudanças do clima, ela afeta 2.445
municípios e estados inteiros, com desdobramentos nas lavouras e nos
reservatórios das hidrelétricas”. Nesse particular, frisamos que a produção
literária da geração 1930 pode dialogar com a atualidade.
Diante
do contexto atual, destaquei o impulso de Gilberto
Freyre (excepcionalmente em: Casa
Grande e Senzala) para um olhar regionalista (inconfundivelmente, o
nordestino). Na sequência, destacamos os trabalhos que problematizam a tragédia
da seca. No tocante à literatura decorrente realista conhecida como geração de
30, vislumbramos: A Bagaceira, de José Américo
de Almeida; O Quinze, de Rachel de
Queiroz; Vidas secas, de Graciliano
Ramos.
Mostrei
que muitos temas podem emanar dessas produções de 1930. Dessa forma,
problematizamos a questão da violência
simbólica que pode ser vista, de forma crítica, nos livros citados acima e
em outros como: Menino de engenho,
de José Lins do Rego, Cacau e Capitães da areia, ambos de Jorge
Amado. Ainda nessa visão temática,
evidenciamos as discussões que são levantadas sobre a “voz feminina na literatura*”
nesses livros, por exemplo, revelamos as personagens: Soledade e Carlota, da
obra A Bagaceira, de José Américo de Almeida; Sinhá Vitória, do livro Vidas secas, de
Graciliano Ramos e Conceição (professora que revela
afinidade com o feminismo e com o socialismo), do livro O Quinze, de Rachel de Queiroz. Por assim dizer, procuramos discutir a "construção da imagem feminina" nessas obras.
Para cumprir o nosso objetivo de fazer a interseção imagética entre o plástico e o icônico, visitamos o site oficial que reúne as imagens das telas que foram produzidas por Cândido Portinari. Assim sendo, vimos que é possível fazermos a análise da “SÉRIE RETIRANTES”, de Cândido Portinari na interface com passagens dos romances da geração de 1930.
EXEMPLO:
Agora, observem a relação entre a
imagem acima (Figura 1) e o excerto do livro A Bagaceira, de José Américo de Almeida logo
a seguir:
“Era o êxodo da seca de 1898. Uma
ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto
terroso e o fedor das covas podres. Os fantasmas estropiados como que iam
dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as
pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trás, como
quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam.
Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no
arrastão dos maus fados. Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado
nomadismo. Adelgaçados na magreira cômica,
cresciam, como se o vento os levantasse. E os
braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando. Vinham
escoteiros. Menos os hidrópicos – doentes da alimentação tóxica – com os fardos das barrigas alarmantes. Não tinha sexo,
nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais. Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam,
torcendo as carinhas decrépitas de ex-voto. Os vaqueiros másculos, como
titãs alquebrados, em petição de miséria. Pequenos fazendeiros, no arremesso
igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento. Mais mortos do que
vivos. Vivos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do
sol da seca. Uns olhos espasmódicos de pânico, como se estivessem assombrados
de si próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante”.
O excerto acima foi extraído do
livro A Bagaceira, de José Américo de Almeida. Nele, destaco
traços comuns entre uma cena que envolve retirantes e a imagem da
própria tela. Ao compararmos as duas composições, verificamos que há uma
aproximação temática importante. Assim, por um lado, José Américo de Almeida
evidencia figuras humanas vitimadas pela tragédia da seca e, por outro lado,
Cândido Portinari recupera, no nível pictorial, um cenário similar.
...
Em síntese, destacamos algumas produções literárias da geração de 1930 de forma crítica com propósito de dialogar com o presente. Além disso, promovemos uma pesquisa sobre a produção pictórica de Cândido Portinari: “SERIE RETIRANTES”. Na sequência, expusemos temáticas que podem ser extraídas das obras em foco, como: a visão feminina e, por fim, mostramos como se posicionar criticamente frente às demandas atuais.
*Para fundamentar as questões concernentes à voz feminina na literatura, recomendamos a leitura de:
BRANDÃO, Ruth Silviano. A Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
DUARTE, Constância Lima. Feminismo e Literatura no Brasil. In Estudos Avançados. vol. 17 no. 49 São Paulo Sept./Dec. 2003.