sábado, 10 de maio de 2025

LER E COMPREENDER - A GERAÇÃO DOPAMINA E A DEPENDÊNCIA NAS REDES DIGITAIS - II TRIMESTRE - 2025 - Modernidade líquida - Bauman - Nação dopamina - Anna Lembke - Sociedade do cansaço - Byung-Chul Han

 




Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais

Para Jackson Bittencourt, os aplicativos são desenvolvidos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade que deixa o indivíduo mais tempo conectado às redes sociais

Músicas, danças, dublagens e curiosidades são conteúdos populares associados ao TikTok, aplicativo de celular mais baixado do mundo nos últimos anos, contabilizando mais de 670 milhões de downloads apenas em 2022. No Brasil, de acordo com levantamento realizado pelo DataReportal, mais de 80 milhões de pessoas são usuárias do programa.

Jackson Bittencourt, professor do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), explica como o uso da rede social está relacionado com a dopamina e as emoções do ser humano.

 

Transmissor da felicidade

 

A dopamina é um neurotransmissor que, como qualquer outro, é responsável por transmitir as informações de um neurônio para o próximo, isto é, são os mensageiros do cérebro. Mas, de forma singular, ela está associada aos hormônios da felicidade, provocando sensações de prazer, satisfação, motivação e, também, atuando nos processos cognitivos.

“Ela é sintetizada em alguns neurônios de grupamentos celulares diferentes no nosso cérebro. Cada um deles tem uma responsabilidade funcional, a partir da Área Tegmental Ventral, que produz neurônios dopaminérgicos e se projeta para o córtex cerebral, onde damos conta das coisas gratificantes”, explica o especialista. 

 

Aplicativos  dopaminérgicos

 

Segundo um estudo, publicado na revista científica NeuroImage, existem áreas do cérebro humano que são ligadas a um sistema de recompensa. Nesse sentido, aplicativos como o TikTok e o Instagram são responsáveis por ativar esse conjunto por meio dos seus vídeos e produzem uma sensação de satisfação momentânea.

Conforme Bittencourt, essas imagens gratificantes remetem o indivíduo a alguma relação com memórias afetivas, podendo ser cor, movimento ou som. Ele compara com a situação de quando uma pessoa entra em determinado lugar, sente o cheiro de algum alimento que fez parte da sua infância e fica com vontade de consumi-lo, muitas vezes por conta de momentos felizes com sua família ou amigos.

Em especial, esses programas de celulares possuem vídeos curtos, com edições aceleradas e músicas populares e um algoritmo pessoal, ou seja, são personalizadas com base em antigas interações do usuário. Dessa forma, o professor explica que essa gratificação rápida deixa o indivíduo mais tempo ligado no aplicativo por conta da facilidade no prazer: “O elemento físico depende de atenção, raciocínio, julgamento e abstração, é algo mais demorado. Esse prazer vai ser consolidado posteriormente e não imediatamente como nos aplicativos”.

  

Vício proposital

 

Segundo Bittencourt, as empresas criaram os aplicativos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade no indivíduo, de forma que eles não consigam trocá-lo. A partir disso, a inteligência artificial divulga informações e propagandas daquilo que os usuários já consumiram para que eles se sintam cada vez mais ligados à rede.

“Eu estou procurando uma viagem e imediatamente recebo propagandas de diversas companhias que estão promovendo pacotes. Essa dependência foi criada pela empresa, essa informação está na nuvem”, exemplifica. Essa realidade é a mesma para com as redes, que muitas vezes, ao terminar de assistir um vídeo, é recomendado um próximo do mesmo tema.

Por fim, Bittencourt afirma que combater a “ditadura algorítmica” é um território perigoso, pois pode adentrar o âmbito da censura, caso não seja realizado da maneira correta. No entanto, ele ressalta que isso precisa ser regulamentado de alguma forma: “Precisamos que essas informações sejam melhor gerenciadas, medidas são e serão necessárias para evitar esse tipo de problema”, avalia.

 

Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/gratificacao-rapida-e-um-dos-fatores-que-podem-explicar-a-dependencia-das-redes-sociais/ Acesso em: 28 abr. 2025.

Responda:

01.  O que legitima a assertiva de que dopamina e emoções humanas estão relacionadas aos conteúdos digitais?

02.  Campo semântico e seleção lexical conduzem o leitor ao entendimento de que o texto é especializado? Explique.

03.  Sobre coesão e coerência, explique a predominância da função sintática da partícula “que”, do pronome relativo “onde” e da reposição “para” (este último no lide) e esclareça o desdobramento desses termos no plano semântico para a produção de sentido.

04.  De que forma a “geração dopamina” lida com os problemas mais instigantes da humanidade hoje relativos à geopolítica e a  uma série de contingências, como fome, seca, falta de insumos etc.?

05.  Por que há recorrência de orações subordinadas adverbiais conformativas nos parágrafos 5º e 6º?

06.  No livro “Nação dopamina”, de Anna Lembke, encontramos uma discussão sobre a relação entre prazer e excesso e fuga da dor. Nele, a autora explica a neurociência da recompensa relacionada a formas de burlar a dor com incentivos a vantagens emocionais, principalmente aquelas oriundas dos apelos capitalistas (hoje ofertados pelas redes digitais), que trazem por consequência ansiedade, depressão e outros problemas de ordem emocional. Diante disso, comente o pensamento de Anna Lembke frente à ideia central do texto "Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais".

07.  Byung-Chul Han, em seu livro Sociedade do cansaço, afirma que “o excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da atenção” Han (2017, p. 31). Diante dessa afirmação, de que forma o multitasking (multitarefas) apavora e sobrecarrega as pessoas retirando-as do convívio humano normal levando-as à dependência digital?

08.  Byung-Chul Han revela, no mesmo livro Sociedade do cansaço, que “o sujeito do desempenho esgotado, depressivo está, de certo  modo, desgastado consigo mesmo. Está cansado, esgotado de si mesmo, de lutar consigo mesmo. Totalmente incapaz de sair de si, estar lá fora, de confiar no outro, no mundo, fica se remoendo, o que paradoxalmente acaba levando a autoerosão a ao esvaziamento. Desgasta-se numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma” (HAN, 2017, p. 91). Nesse entendimento, por que atrativos da cultura de massa, como: conteúdos de baixa qualidade, séries, jogos e literatura de autoajuda (igualmente tida como de massas) assumem o protagonismo para “suprir” o déficit emocional (ou até existencial) da sociedade hodierna?

01.  Zygmunt Balman – em seu livro Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria – adverte que: “a instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, assim como a resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, de seus objetos, harmonizam-se bem com a nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e tendências a ser conduzidas no futuro possível” (BALMAN, 2008, p. 44). Diante desse pensamento do sociólogo, comente a relação entre a ideia central do texto e a crítica que pode ser feita à lógica da “geração dopamina”.




RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS => QUESTÕES DA AVALIAÇÃO DO I TRIMESTRE - 2os ANOS

 


RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS 
AVALIAÇÃO DO I TRIMESTRE - 2025 

Romantismo? Na versão literária mais famosa de “A Bela e a Fera”, o amor não era fundamental

Qual seria a principal mensagem por trás de A Bela e a Fera? Valorizar a beleza interior? Sim, sem dúvida. Mas na versão mais popular do conto, escrita em 1756 pela francesa Madame Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, essa valorização tinha uma função bem específica: ensinar as garotas a aceitarem os casamentos arranjados, nos quais o amor não era fundamental.

Quem explica essa tese é a estudiosa do folclore europeu Maria Tatar, na introdução de A Bela e a Fera, presente na coletânea Contos de Fadas, organizada por ela e publicada no Brasil pela Zahar. A ideia pode parecer meio chocante pra quem está acostumado ao romantismo presente em versões mais modernas do conto, mas faz todo o sentido. [...]

Na história, Bela se torna prisioneira no castelo da Fera para pagar uma punição sofrida por seu pai, que tinha roubado uma rosa do jardim da criatura. Apesar de estar cativa, a jovem tem liberdade para circular pelo castelo [...]. Logo ela percebe que a Fera, apesar de sua aparência monstruosa, tem um bom coração (na verdade, a criatura era um príncipe que tinha sido enfeitiçado anos antes).

Durante vários dias, a Fera pede que Bela se case com ele, mas a garota rejeita o pedido alegando que seu companheiro era muito feio. Com o passar do tempo, porém, ela começa a se afeiçoar a ele, ignorando seu aspecto rude e valorizando suas virtudes. Por fim, Bela aceita se casar com a Fera e essa decisão faz com que o feitiço seja quebrado. O monstro volta a ter a aparência de um príncipe e eles “vivem felizes para sempre”.

Ficou na cara, né? Várias jovens românticas do século XVIII devem ter passado por situações semelhantes à da Bela, ao serem forçadas a resolver um “problema” criado por seus pais: casar com alguém que mal conheciam num matrimônio arranjado. O marido talvez parecesse um monstro rude e feio num primeiro momento, mas a convivência e a rotina fariam com que a jovem esposa passasse a admirá-lo. [...]

Quer mais? O conto de Madame de Beaumont apareceu pela primeira vez num livro chamado Le magazine des enfants, que era usado didaticamente para ensinar virtudes a crianças e jovens. [...] Com o passar dos anos, essa defesa dos casamentos sem amor se tornou anacrônica e perdeu força; as versões mais modernas da história têm como mensagem principal a importância da empatia: o amor pode surgir entre aqueles que são diferentes. [...]

Apesar de ter sido usada para uma função pedagógica totalmente ultrapassada, a história continua encantadora. Pra quem quiser conhecer melhor a versão literária de A Bela e Fera, eu sugiro dois livros da coleção Clássicos Zahar. Um é o já citado Contos de Fadas, que reúne as histórias infantis mais populares do mundo. O outro é a edição bolso de luxo de A Bela e a Fera, que apresenta, além do conto de Madame de Beaumont, uma versão anterior e mais extensa da história, escrita por Madame de Villeneuve em 1740.

FURLAN, Lucas. Disponível em: https://valeugutenberg.com/2017/03/16/romantismo-na-versao-literaria-mais-famosa-de-a-bela-e-a-fera-o-

amor-nao-era-fundamental Acesso em: 17 jun. 2022. (Adaptado)

 

 01.    No segundo parágrafo, a expressão “essa tese” se refere a que trecho do texto?

 

a)        “Essa valorização [da beleza interior, em A bela e a fera] tinha a intenção de ensinar as garotas a

aceitarem os casamentos arranjados.”

b)        “A ideia pode parecer meio chocante pra quem está acostumado ao romantismo presente em versões mais modernas do conto.”

c)        “Bela se torna prisioneira no castelo da Fera para pagar uma punição sofrida por seu pai, que

tinha roubado uma rosa do jardim da criatura.”

d)       “Ela percebe que a Fera, apesar de sua aparência monstruosa, tem um bom coração (na verdade, a criatura era um príncipe que tinha sido enfeitiçado anos antes).”

e)        “Durante vários dias, a Fera pede que Bela se case com ele, mas a garota rejeita o pedido

alegando que seu companheiro era muito feio.”


01.     02. Releia: “Logo ela percebe que  a  Fera  [...]  tem  um  bom  coração  [...].”. A relação sintático-semântica revelada no trecho está mantida em qual proposta de reescrita?

 

a)        Embora ela perceba que a Fera tem um bom coração.

b)        Portanto, ela percebe que a Fera tem um bom coração.

c)        Cedo ela percebe que a Fera tem um bom coração.

d)       Mas ela percebe que a Fera tem um bom coração.

e)        Lá ela percebe que a Fera tem um bom coração.

Nossa feminista viveria um conto de fadas, mas o príncipe era um cancelado

Era uma vez, em um reino não tão distante, na cidade do Rio de Janeiro, uma jovem mulher que não usava tiara nem tinha pais importantes, mas, quando saía de casa, era abordada por homens desconhecidos que a chamavam de princesa. Sim, nossa mocinha era feminista e lutava por um mundo em que mulheres pudessem passear sozinhas no bosque, sem se sentir ameaçadas.

Até que, certa noite, num karaokê, ela se arriscou a cantar uma música da Kate Bush, quase estourou os copos do estabelecimento, e chamou a atenção de um rapaz que em nada parecia um príncipe. Ele não enalteceu seus atributos físicos, não tentou beijá-la nem a perseguiu quando ela decidiu ir embora. Era o início de uma história de amor. Mas nossa antiprincesa estava decidida a vivê-la sem abrir mão de sua individualidade. O que ela não sabia é que estava prestes a protagonizar uma releitura contemporânea do mais abominável dos contos de fada, "A Bela e a Fera".

Ele era avesso a redes sociais, o que parecia extremamente sexy em meio à surra de selfies e superexposição à qual ela estava acostumada. Mas uma simples busca no Google foi suficiente para desconstruir o tal desconstruído. E assim ela descobriu que seu grande amor era... Cancelado. Um desabafo publicado pela ex-namorada dele sobre a relação abusiva que os dois tiveram repercutiu entre mulheres que viveram situações semelhantes.

É possível se desapaixonar? Parte da Ciência diz que é possível se desapaixonar de forma arbitrária.

Ele tentou se justificar. Disse que sua ex sofria de transtornos psicológicos (o famoso conto da "ex louca"). Que não era mais aquele cara de outrora (o famoso conto do "juro que vou mudar"). E implorou para que ela não desistisse de uma relação tão especial (o famoso conto do "você não vai encontrar nada melhor").

Mesmo sem acreditar em contos de fadas, ela sabia que era mais provável reverter a maldição de uma bruxa do que um cancelamento. E eles não foram felizes para sempre.

CANTUÁRIA, Manuela. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/manuela-cantuaria/2022/07/nossa-feminista-viveria-um-conto-

de-fadas-mas-o-principe-era-um-cancelado.shtml Acesso em: 02 jul. 2022. (Adaptado)

 


 

03    Sabemos que os textos, literários ou não literários, mantêm relações estreitas com o seu contexto de produção: a época, o lugar, as experiências e modos de pensar do autor ou da autora. Assim, considere o contexto espaço-temporal e cultural de produção e circulação do Texto 4 e assinale a afirmativa CORRETA.

 

a)        O texto trata dos conflitos vividos pela mulher de hoje: vivendo em um ambiente modernamente digital e pleno do ideal feminista, a protagonista é parte de um feminismo empoderado, mas ainda está presa ao ideal do “felizes para sempre”.

b)        A inserção de A Bela e a Fera no Texto 4 constitui uma ironia, um antimodelo à realidade feminina atual, uma espécie de lente mágica que amplia o olhar sobre a violência por vezes disfarçada que vitimiza muitas mulheres de hoje.

c)        O texto de Manuela Cantuária se opõe frontalmente à contemporaneidade, na medida em que deprecia o feminismo e práticas contemporâneas, como os seguintes elementos citados: busca no Google, karaokê, selfies, superexposição, cancelamento.

d)       Na construção do texto, o conjunto de palavras e expressões que remetem ao mundo dos contos de fadas, como “Era uma vez”, “príncipe”, “felizes para sempre” etc., tem a finalidade de construir a ideia contemporânea de feminismo.

e)        O “rapaz que em nada parecia um príncipe”, de certa forma, decepcionou a protagonista, já que ele quebrou as suas expectativas de um final feliz quando, por exemplo, não elogiou a sua beleza nem tentou beijá-la.

04    No 2º parágrafo do Texto 4, a autora afirma que a personagem “estava prestes a protagonizar uma releitura contemporânea do mais abominável dos contos de fada”. É CORRETO entender que essa releitura consiste

a)        num conto de fadas em que o príncipe é um homem cancelado.

b)        numa história que prioriza um vocabulário ligado ao mundo digital.

c)        na paródia de um famoso conto infantil com um foco no humor.

d)       numa narrativa que destaca a desconstrução de uma fantasia.

e)        nas naturalizadas histórias de violência cotidiana contra mulheres.

 

A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe

sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.

Aurélia! Que significa isto?

Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.

Vendido! exclamou Seixas ferido dentro d’alma.

  Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou- me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.

Aurélia proferiu estas palavras desdobrando um papel, no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos. Não se pode exprimir o sarcasmo que salpicava dos lábios da moça; nem a indignação que vazava dessa alma profundamente revolta, no olhar implacável com que ela flagelava o semblante do marido.

ALENCAR, José de. Senhora. Excerto. p. 38. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000011.pdf

Acesso em: 10 jun. 2022.

 

05.    Com base na leitura do Texto 5, considerando as características do romance “Senhora”, de José de Alencar, assinale a alternativa CORRETA.

a)        Aurélia é protagonista na obra “Senhora” e revela a submissão feminina, traço característico da prosa romântica, para adaptar-se aos costumes sociais da elite paulistana, transformando sua origem humilde em fortaleza contra as falsidades e a hipocrisia da sociedade.

b)        O romance “Senhora” é exemplo da prosa regionalista de José de Alencar e faz parte do projeto do autor na representação de perfis femininos, com imagens de mulheres independentes e revolucionárias, como também ocorre nas obras “Lucíola” e “Diva”.

c)        Na obra “Senhora”, o casamento é abordado como uma relação comercial, como fica evidente no Texto 5, quando Aurélia afirma: “Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o”.

d)       No Texto 5, a descrição de Aurélia é realizada com elementos poéticos que indicam o perfil feminino submisso e idealizado, traços característicos da prosa neorrealista de Alencar, como se nota em: “A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço”.

e)        O discurso direto de Aurélia, no Texto 5, mostra a reafirmação do casamento nos moldes da prosa romântica idealizada, quando a personagem se refere à representação de uma comédia na qual cada um tem seu papel.


Padre Júlio Lancellotti: “Não se humaniza a vida numa sociedade como a nossa sem conflito”

Líder religioso, conhecido por seu trabalho com a população em situação de rua em São Paulo, fala ao EL PAÍS sobre seus 35 anos de sacerdócio. Alvo de críticas da extrema direita, ele voltou a sofrer ameaças durante a pandemia.

São oito horas da manhã de quinta-feira, 17 de setembro, e o padre Júlio Lancellotti (São Paulo, 1948) veste jaleco branco, avental laranja, sandálias pretas, luvas de látex e uma máscara respiratória rosa com filtro embutido. Há uma fila de centenas de pessoas para tomar café da manhã no Núcleo de Convivência São Martinho de Lima, da prefeitura da capital paulista, e é o religioso quem aponta um termômetro para a testa de cada uma delas. Aos 71 anos, pertence ao grupo mais propenso a desenvolver complicações da covid-19, mas nem uma pandemia tão longa e mortífera freou sua convivência diária com a população que vive nas ruas de São Paulo.

Quando Cassiano, de 40 anos, se juntou à fila com o corpo sujo, as roupas rasgadas, machucado na testa e olhar triste, Lancellotti não hesitou em se aproximar e tocar a cabeça do homem com as duas mãos. “Nós vamos cuidar de você”, disse, com a voz suave. Quando ele já estava sentado e comendo, o padre se aproximou de novo para saber o que havia acontecido. Um abraço demorado cobriu, então, a cabeça do rapaz. Um carinho incomum que fez com que ele chorasse. “Não são anjos ou demônios. Eu procuro ver os olhos deles... Tem os que estão com raiva, tristes, solitários, alegres... Desses 40 anos, há quanto tempo Cassiano não recebia um afeto?”, pergunta Lancellotti.

Sua quinta-feira começou como todos os dias, com uma missa na Igreja São Miguel Arcanjo, da qual é pároco. Ali, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, mantém há 35 anos um compromisso constante com a população em situação de vulnerabilidade. Costumava servir um café da manhã na própria igreja para cerca de 200 pessoas. Veio a pandemia e o número praticamente triplicou. As atividades tiveram de ser transferidas, com o aval da Prefeitura, para o centro comunitário a algumas quadras dali. “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles. Porque dizer „trabalhar‟ parece que eles são objetos. É preciso olhar para a vida de forma humana. Isso não é tarefa só para os religiosos. Mas eu não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida", explica. [...] Até hoje Lancellotti segue vivendo na pequena casa, no bairro do Belém, que era de sua mãe, Wilma, que morreu em 2010, aos 88 anos.

Felipe Betim. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-20/padre-julio-lancellotti-nao-se-humaniza-a-vida-numa-sociedade- como-a-nossa-sem-conflito.html Acesso em: 02 ago. 2021. Excerto adaptado.

 

06.    Nos textos narrativos, são comuns partes que buscam descrever elementos como ambientes e personagens. O Texto acima, de tipologia predominantemente narrativa, apresenta um trecho notadamente descritivo em:

a)   “Aos 71 anos, [o padre] pertence ao grupo mais propenso a desenvolver complicações da covid-19, [...].”.

b)   “Quando Cassiano, de 40 anos, se juntou à fila com o corpo sujo, as roupas rasgadas, machucado na testa e olhar triste, [...]”.

c)   “Quando ele estava sentado e comendo, o padre se aproximou de novo para saber o que havia

acontecido. Um abraço demorado cobriu, então, a cabeça do rapaz.”.

d)   “Sua quinta-feira começou como todos os dias, com uma missa na Igreja São Miguel Arcanjo, da

qual é pároco.”.

e)   “Ali, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, mantém 35 anos um compromisso constante

com a população em situação de vulnerabilidade.”.


“Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles. Porque dizer

„trabalhar‟ parece que eles são objetos. É preciso olhar para a vida de forma humana. Isso não é tarefa só para os religiosos. Mas eu não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida", explica.” (3º parágrafo)


07.    Ainda considerando o trecho anterior, assinale a alternativa CORRETA quanto ao emprego de certos recursos da coesão e da pontuação.

 

a)         Em: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles.”, o emprego do pronome “eles”

(destacado) gera incoerência, visto que pretende substituir “morador de rua”.

b)        Também no trecho anterior: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles.”, o emprego do ponto final para separar as orações é obrigatório, mas a vírgula é a outra opção autorizada pelo uso mais formal da língua.

c)         O trecho: “Eu não trabalho com morador de rua. Eu convivo com eles.” mantém o mesmo sentido em: “Eu não trabalho com morador de rua, porque eu convivo com eles.”.

d)        Em: “Isso não é tarefa só para os religiosos.”, o termo destacado retoma o segmento “olhar para a vida de forma humana”.

e)         Uma proposta de articulação que também atenderia os sentidos pretendidos entre os períodos a seguir é: “Isso não é tarefa só para os religiosos, portanto eu não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida".


08.    Leia, compare e responda.

 O canto do guerreiro

Aqui na floresta

Dos ventos batida,

Façanhas de bravos

Não geram escravos,

Que estimem a vida

Sem guerra e lidar.

— Ouvi-me, Guerreiros,

— Ouvi meu cantar.

Valente na guerra,

Quem há, como eu sou?

Quem vibra o tacape

Com mais valentia?

Quem golpes daria

Fatais, como eu dou?

— Guerreiros, ouvi-me;

— Quem há, como eu sou?

Gonçalves Dias.

Macunaíma

(Epílogo)

Acabou-se a história e morreu a vitória.

Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos

tão pançudos. Quem podia saber do Herói?

 

Mário de Andrade.

A leitura comparativa dos dois textos acima indica que

a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico.

b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil.

c) as perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1.o texto) e “Quem podia saber do Herói?” (2.o texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira.

d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil.

e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.

09. Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.

Esse trecho é o início do romance Iracema, de José de Alencar. Dele, como um todo, é possível afirmar que

a) Iracema é uma lenda criada por Alencar para explicar poeticamente as origens das raças indígenas da América.

b) as personagens Iracema, Martim e Moacir participam da luta fratricida entre os Tabajaras e os Pitiguaras.

c) o romance, elaborado com recursos de linguagem figurada, é considerado o exemplar mais perfeito da prosa poética na ficção romântica brasileira.

d) o nome da personagem-título é anagrama de América e essa relação caracteriza a obra como um romance histórico.

e) a palavra Iracema é o resultado da aglutinação de duas outras da língua guarani e significa “lábios de fel”.

10. No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...

b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...

c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...

d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...

e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

11. Leia e responda

A PEDREIRA

Daí à pedreira, restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.

Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folha de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o corpo dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.

A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de cordas que, mesquinhamente, lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o gigante.

(AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. 25a ed. São Paulo. Ática, 1992, 48-49)

Com relação aos romances naturalistas, a exemplo do fragmento de texto apresentado anteriormente, classifique as sentenças como verdadeiras (V) ou falsas (F).

(   ) Retratam fatos que a sociedade procura ocultar.

(   ) O meio ambiente é preponderante e determinante no comportamento do personagem.

(   ) O enredo é carregado de determinismo e fatalismo.

(   ) O meio social, a hereditariedade, os instintos determinam os conflitos e a vida do homem.

(   ) Personagens humildes são fotografados em situações chocantes para o leitor da época.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.

a) V, V, F, F, V

b) F, V, F, V, V

c) F, F, V, V, F

d) V, F, F, V, V

e) F, V,V,V,V

 12. Leia, compare, reflita e responda:

TEXTO 1

Charge de Benett para Folha, com publicação na edição impressa de 28 de fevereiro de 2023.

TEXTO 2

Trabalhadores de colheita de uva são resgatados em regime análogo à escravidão no Rio Grande do Sul

OUTRO LADO: vinícolas dizem que respeitam as leis, que contrato com fornecedor de empresa terceirizada foi rompido e que se solidarizam com trabalhadores

Folha de São Paulo, 24 de fev. 2023.

 

TEXTO 3

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.  

TEXTO 4

Navio negreiro

São os filhos do deserto, 
Onde a terra esposa a luz. 
Onde vive em campo aberto 
A tribo dos homens nus... 
São os guerreiros ousados 
Que com os tigres mosqueados 
Combatem na solidão. 
Ontem simples, fortes, bravos. 
Hoje míseros escravos, 
Sem luz, sem ar, sem razão. . . 

São mulheres desgraçadas, 
Como Agar o foi também. 
Que sedentas, alquebradas, 
De longe... bem longe vêm... 
Trazendo com tíbios passos, 
Filhos e algemas nos braços, 
N'alma — lágrimas e fel... 
Como Agar sofrendo tanto, 
Que nem o leite de pranto 
Têm que dar para Ismael. 

ALVES, Castro. O navio negreiro. Disponível em:

< http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action =&co_obra=1786 >. Acesso em: 7 abr. 2025.

 

Compare os quatro textos e assinale a alternativa que não condiz com os nossos estudos literários.

A)    Os quatro textos, guardadas as devidas proporções, têm o mesmo fio temático, porém cada um traz uma perspectiva diferente do tratamento dado ao humano.

B)     O TEXTO 1 e o TEXTO 4 se distanciam pela questão cronológica, no entanto se aproximam no que diz respeito a exploração do humano.

C)     Os TEXTOS 1 e 2 podem ser relacionados às reflexões do Condoreirismo romântico.

D)    As imagens presentes no TEXTO 1 fazem intertexto com as telas do pintor francês Jean-Baptista Debret.

E)     A fase Social ou Libertária do Romantismo intencionou acelerar o processo abolicionista, como se vê na ideia central do TEXTO 2.