sábado, 10 de maio de 2025

LER E COMPREENDER - A GERAÇÃO DOPAMINA E A DEPENDÊNCIA NAS REDES DIGITAIS - II TRIMESTRE - 2025 - Modernidade líquida - Bauman - Nação dopamina - Anna Lembke - Sociedade do cansaço - Byung-Chul Han

 




Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais

Para Jackson Bittencourt, os aplicativos são desenvolvidos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade que deixa o indivíduo mais tempo conectado às redes sociais

Músicas, danças, dublagens e curiosidades são conteúdos populares associados ao TikTok, aplicativo de celular mais baixado do mundo nos últimos anos, contabilizando mais de 670 milhões de downloads apenas em 2022. No Brasil, de acordo com levantamento realizado pelo DataReportal, mais de 80 milhões de pessoas são usuárias do programa.

Jackson Bittencourt, professor do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), explica como o uso da rede social está relacionado com a dopamina e as emoções do ser humano.

 

Transmissor da felicidade

 

A dopamina é um neurotransmissor que, como qualquer outro, é responsável por transmitir as informações de um neurônio para o próximo, isto é, são os mensageiros do cérebro. Mas, de forma singular, ela está associada aos hormônios da felicidade, provocando sensações de prazer, satisfação, motivação e, também, atuando nos processos cognitivos.

“Ela é sintetizada em alguns neurônios de grupamentos celulares diferentes no nosso cérebro. Cada um deles tem uma responsabilidade funcional, a partir da Área Tegmental Ventral, que produz neurônios dopaminérgicos e se projeta para o córtex cerebral, onde damos conta das coisas gratificantes”, explica o especialista. 

 

Aplicativos  dopaminérgicos

 

Segundo um estudo, publicado na revista científica NeuroImage, existem áreas do cérebro humano que são ligadas a um sistema de recompensa. Nesse sentido, aplicativos como o TikTok e o Instagram são responsáveis por ativar esse conjunto por meio dos seus vídeos e produzem uma sensação de satisfação momentânea.

Conforme Bittencourt, essas imagens gratificantes remetem o indivíduo a alguma relação com memórias afetivas, podendo ser cor, movimento ou som. Ele compara com a situação de quando uma pessoa entra em determinado lugar, sente o cheiro de algum alimento que fez parte da sua infância e fica com vontade de consumi-lo, muitas vezes por conta de momentos felizes com sua família ou amigos.

Em especial, esses programas de celulares possuem vídeos curtos, com edições aceleradas e músicas populares e um algoritmo pessoal, ou seja, são personalizadas com base em antigas interações do usuário. Dessa forma, o professor explica que essa gratificação rápida deixa o indivíduo mais tempo ligado no aplicativo por conta da facilidade no prazer: “O elemento físico depende de atenção, raciocínio, julgamento e abstração, é algo mais demorado. Esse prazer vai ser consolidado posteriormente e não imediatamente como nos aplicativos”.

  

Vício proposital

 

Segundo Bittencourt, as empresas criaram os aplicativos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade no indivíduo, de forma que eles não consigam trocá-lo. A partir disso, a inteligência artificial divulga informações e propagandas daquilo que os usuários já consumiram para que eles se sintam cada vez mais ligados à rede.

“Eu estou procurando uma viagem e imediatamente recebo propagandas de diversas companhias que estão promovendo pacotes. Essa dependência foi criada pela empresa, essa informação está na nuvem”, exemplifica. Essa realidade é a mesma para com as redes, que muitas vezes, ao terminar de assistir um vídeo, é recomendado um próximo do mesmo tema.

Por fim, Bittencourt afirma que combater a “ditadura algorítmica” é um território perigoso, pois pode adentrar o âmbito da censura, caso não seja realizado da maneira correta. No entanto, ele ressalta que isso precisa ser regulamentado de alguma forma: “Precisamos que essas informações sejam melhor gerenciadas, medidas são e serão necessárias para evitar esse tipo de problema”, avalia.

 

Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/gratificacao-rapida-e-um-dos-fatores-que-podem-explicar-a-dependencia-das-redes-sociais/ Acesso em: 28 abr. 2025.

Responda:

01.  O que legitima a assertiva de que dopamina e emoções humanas estão relacionadas aos conteúdos digitais?

02.  Campo semântico e seleção lexical conduzem o leitor ao entendimento de que o texto é especializado? Explique.

03.  Sobre coesão e coerência, explique a predominância da função sintática da partícula “que”, do pronome relativo “onde” e da reposição “para” (este último no lide) e esclareça o desdobramento desses termos no plano semântico para a produção de sentido.

04.  De que forma a “geração dopamina” lida com os problemas mais instigantes da humanidade hoje relativos à geopolítica e a  uma série de contingências, como fome, seca, falta de insumos etc.?

05.  Por que há recorrência de orações subordinadas adverbiais conformativas nos parágrafos 5º e 6º?

06.  No livro “Nação dopamina”, de Anna Lembke, encontramos uma discussão sobre a relação entre prazer e excesso e fuga da dor. Nele, a autora explica a neurociência da recompensa relacionada a formas de burlar a dor com incentivos a vantagens emocionais, principalmente aquelas oriundas dos apelos capitalistas (hoje ofertados pelas redes digitais), que trazem por consequência ansiedade, depressão e outros problemas de ordem emocional. Diante disso, comente o pensamento de Anna Lembke frente à ideia central do texto "Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais".

07.  Byung-Chul Han, em seu livro Sociedade do cansaço, afirma que “o excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da atenção” Han (2017, p. 31). Diante dessa afirmação, de que forma o multitasking (multitarefas) apavora e sobrecarrega as pessoas retirando-as do convívio humano normal levando-as à dependência digital?

08.  Byung-Chul Han revela, no mesmo livro Sociedade do cansaço, que “o sujeito do desempenho esgotado, depressivo está, de certo  modo, desgastado consigo mesmo. Está cansado, esgotado de si mesmo, de lutar consigo mesmo. Totalmente incapaz de sair de si, estar lá fora, de confiar no outro, no mundo, fica se remoendo, o que paradoxalmente acaba levando a autoerosão a ao esvaziamento. Desgasta-se numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma” (HAN, 2017, p. 91). Nesse entendimento, por que atrativos da cultura de massa, como: conteúdos de baixa qualidade, séries, jogos e literatura de autoajuda (igualmente tida como de massas) assumem o protagonismo para “suprir” o déficit emocional (ou até existencial) da sociedade hodierna?

01.  Zygmunt Balman – em seu livro Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria – adverte que: “a instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, assim como a resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, de seus objetos, harmonizam-se bem com a nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e tendências a ser conduzidas no futuro possível” (BALMAN, 2008, p. 44). Diante desse pensamento do sociólogo, comente a relação entre a ideia central do texto e a crítica que pode ser feita à lógica da “geração dopamina”.




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