Gratificação
rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais
Para Jackson Bittencourt, os
aplicativos são desenvolvidos com o objetivo de produzir um sentimento de
necessidade que deixa o indivíduo mais tempo conectado às redes sociais
Músicas,
danças, dublagens e curiosidades são conteúdos populares associados ao TikTok,
aplicativo de celular mais baixado do mundo nos últimos anos, contabilizando
mais de 670 milhões de downloads apenas em 2022. No Brasil, de acordo com
levantamento realizado pelo DataReportal, mais de 80 milhões de pessoas são
usuárias do programa.
Jackson
Bittencourt, professor do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências
Biológicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), explica como o uso da rede
social está relacionado com a dopamina e as emoções do ser humano.
Transmissor
da felicidade
A
dopamina é um neurotransmissor que, como qualquer outro, é responsável por
transmitir as informações de um neurônio para o próximo, isto é, são os
mensageiros do cérebro. Mas, de forma singular, ela está associada aos
hormônios da felicidade, provocando sensações de prazer, satisfação, motivação
e, também, atuando nos processos cognitivos.
“Ela
é sintetizada em alguns neurônios de grupamentos celulares diferentes no nosso
cérebro. Cada um deles tem uma responsabilidade funcional, a partir da Área
Tegmental Ventral, que produz neurônios dopaminérgicos e se projeta para o
córtex cerebral, onde damos conta das coisas gratificantes”, explica o
especialista.
Aplicativos dopaminérgicos
Segundo
um estudo, publicado na revista científica NeuroImage, existem
áreas do cérebro humano que são ligadas a um sistema de recompensa. Nesse
sentido, aplicativos como o TikTok e
o Instagram são responsáveis por
ativar esse conjunto por meio dos seus vídeos e produzem uma sensação de
satisfação momentânea.
Conforme
Bittencourt, essas imagens gratificantes remetem o indivíduo a alguma relação
com memórias afetivas, podendo ser cor, movimento ou som. Ele compara com a
situação de quando uma pessoa entra em determinado lugar, sente o cheiro de
algum alimento que fez parte da sua infância e fica com vontade de consumi-lo,
muitas vezes por conta de momentos felizes com sua família ou amigos.
Em
especial, esses programas de celulares possuem vídeos curtos, com edições
aceleradas e músicas populares e um algoritmo pessoal, ou seja, são
personalizadas com base em antigas interações do usuário. Dessa forma, o
professor explica que essa gratificação rápida deixa o indivíduo mais tempo
ligado no aplicativo por conta da facilidade no prazer: “O elemento físico
depende de atenção, raciocínio, julgamento e abstração, é algo mais demorado.
Esse prazer vai ser consolidado posteriormente e não imediatamente como nos
aplicativos”.
Vício
proposital
Segundo
Bittencourt, as empresas criaram os aplicativos com o objetivo de produzir um
sentimento de necessidade no indivíduo, de forma que eles não consigam
trocá-lo. A partir disso, a inteligência artificial divulga informações e
propagandas daquilo que os usuários já consumiram para que eles se sintam cada
vez mais ligados à rede.
“Eu
estou procurando uma viagem e imediatamente recebo propagandas de diversas
companhias que estão promovendo pacotes. Essa dependência foi criada pela
empresa, essa informação está na nuvem”, exemplifica. Essa realidade é a mesma
para com as redes, que muitas vezes, ao terminar de assistir um vídeo, é
recomendado um próximo do mesmo tema.
Por
fim, Bittencourt afirma que combater a “ditadura algorítmica” é um território
perigoso, pois pode adentrar o âmbito da censura, caso não seja realizado da
maneira correta. No entanto, ele ressalta que isso precisa ser regulamentado de
alguma forma: “Precisamos que essas informações sejam melhor gerenciadas,
medidas são e serão necessárias para evitar esse tipo de problema”, avalia.
Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/gratificacao-rapida-e-um-dos-fatores-que-podem-explicar-a-dependencia-das-redes-sociais/
Acesso em: 28 abr. 2025.
Responda:
01.
O que legitima a assertiva de que
dopamina e emoções humanas estão relacionadas aos conteúdos digitais?
02.
Campo semântico e seleção lexical
conduzem o leitor ao entendimento de que o texto é especializado? Explique.
03.
Sobre coesão e coerência, explique a
predominância da função sintática da partícula “que”, do pronome relativo
“onde” e da reposição “para” (este último no lide) e esclareça o desdobramento desses termos no plano semântico para a produção de sentido.
04.
De que forma a “geração dopamina” lida
com os problemas mais instigantes da humanidade hoje relativos à geopolítica e
a uma série de contingências, como fome,
seca, falta de insumos etc.?
05.
Por que há recorrência de orações
subordinadas adverbiais conformativas nos parágrafos 5º e 6º?
06.
No livro “Nação dopamina”, de Anna
Lembke, encontramos uma discussão sobre a relação entre prazer e excesso e fuga
da dor. Nele, a autora explica a neurociência da recompensa relacionada a
formas de burlar a dor com incentivos a vantagens emocionais, principalmente aquelas
oriundas dos apelos capitalistas (hoje ofertados pelas redes digitais), que
trazem por consequência ansiedade, depressão e outros problemas de ordem
emocional. Diante disso, comente o pensamento de Anna Lembke frente à ideia central do texto "Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais".
07.
Byung-Chul Han, em seu livro Sociedade
do cansaço, afirma que “o excesso de positividade se manifesta também como
excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura
e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção. Também a
crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica
relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da
atenção” Han (2017, p. 31). Diante dessa afirmação, de que forma o multitasking
(multitarefas) apavora e sobrecarrega as pessoas retirando-as do convívio humano
normal levando-as à dependência digital?
08. Byung-Chul Han revela, no mesmo livro Sociedade do cansaço, que “o sujeito do desempenho esgotado, depressivo está, de certo modo, desgastado consigo mesmo. Está cansado, esgotado de si mesmo, de lutar consigo mesmo. Totalmente incapaz de sair de si, estar lá fora, de confiar no outro, no mundo, fica se remoendo, o que paradoxalmente acaba levando a autoerosão a ao esvaziamento. Desgasta-se numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma” (HAN, 2017, p. 91). Nesse entendimento, por que atrativos da cultura de massa, como: conteúdos de baixa qualidade, séries, jogos e literatura de autoajuda (igualmente tida como de massas) assumem o protagonismo para “suprir” o déficit emocional (ou até existencial) da sociedade hodierna?
01.
Zygmunt Balman – em seu livro Vida para consumo: a transformação das pessoas
em mercadoria – adverte que: “a
instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, assim como a
resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, de
seus objetos, harmonizam-se bem com a nova liquidez do ambiente em que as
atividades existenciais foram inscritas e tendências a ser conduzidas no futuro
possível” (BALMAN, 2008, p. 44). Diante desse pensamento do sociólogo,
comente a relação entre a ideia central do texto e a crítica que pode ser feita
à lógica da “geração dopamina”.
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