Romantismo? Na versão literária mais famosa de “A Bela e a Fera”,
o amor não era fundamental
Qual
seria a principal mensagem por trás de A Bela e a Fera? Valorizar a beleza
interior? Sim, sem dúvida. Mas na versão mais popular do conto, escrita em 1756
pela francesa Madame Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, essa valorização tinha
uma função bem específica: ensinar
as garotas a aceitarem os casamentos arranjados, nos quais o amor não
era fundamental.
Quem
explica essa tese é
a estudiosa do folclore europeu Maria Tatar, na introdução de A Bela e a Fera, presente na coletânea Contos de Fadas, organizada por ela e
publicada no Brasil pela Zahar. A ideia pode parecer meio chocante pra quem
está acostumado ao romantismo presente em versões mais modernas do conto, mas
faz todo o sentido. [...]
Na
história, Bela se torna prisioneira no castelo da Fera para pagar uma punição
sofrida por seu pai, que tinha roubado uma rosa do jardim da criatura. Apesar
de estar cativa, a jovem tem liberdade para circular pelo castelo [...]. Logo
ela percebe que a Fera, apesar de sua aparência monstruosa, tem um bom coração
(na verdade, a criatura era um príncipe que tinha sido enfeitiçado anos antes).
Durante
vários dias, a Fera pede que Bela se case com ele, mas a garota rejeita o
pedido alegando que seu companheiro
era muito feio. Com o passar do tempo, porém, ela começa a se afeiçoar a ele,
ignorando seu aspecto rude e valorizando suas virtudes. Por fim, Bela aceita se
casar com a Fera e essa decisão faz com que o feitiço seja quebrado. O monstro
volta a ter a aparência de um príncipe e eles “vivem felizes para sempre”.
Ficou
na cara, né? Várias jovens românticas do século XVIII devem ter passado por
situações semelhantes à da Bela, ao serem forçadas a resolver um “problema”
criado por seus pais: casar com alguém que mal conheciam num matrimônio
arranjado. O marido talvez parecesse um monstro rude e feio num primeiro
momento, mas a convivência e a rotina fariam com que a jovem esposa passasse a
admirá-lo. [...]
Quer
mais? O conto de Madame de Beaumont apareceu pela primeira vez num livro
chamado Le magazine des enfants, que
era usado didaticamente para ensinar virtudes a crianças e jovens. [...] Com o passar dos anos, essa defesa dos
casamentos sem amor se tornou anacrônica e perdeu força; as versões mais
modernas da história têm como mensagem principal a importância da empatia: o amor pode
surgir entre aqueles que são diferentes. [...]
Apesar
de ter sido usada para uma função pedagógica totalmente ultrapassada, a
história continua encantadora. Pra quem quiser conhecer
melhor a versão literária de A
Bela e Fera, eu sugiro dois livros
da coleção Clássicos Zahar. Um é o já citado Contos de Fadas, que reúne as
histórias infantis mais populares do mundo. O outro é a edição bolso de luxo de
A Bela e a Fera, que apresenta, além do
conto de Madame de Beaumont, uma versão anterior e mais extensa da história,
escrita por Madame de Villeneuve em 1740.
FURLAN, Lucas. Disponível em: https://valeugutenberg.com/2017/03/16/romantismo-na-versao-literaria-mais-famosa-de-a-bela-e-a-fera-o-
amor-nao-era-fundamental Acesso
em: 17 jun. 2022. (Adaptado)
a)
“Essa valorização [da beleza interior,
em A bela e a fera]
tinha a intenção de ensinar
as garotas a
aceitarem os casamentos arranjados.”
b)
“A ideia pode parecer
meio chocante pra quem está acostumado ao romantismo presente
em versões mais modernas do conto.”
c)
“Bela
se torna prisioneira no castelo da Fera para pagar uma punição sofrida
por seu pai, que
tinha roubado uma rosa do jardim da
criatura.”
d)
“Ela percebe que a Fera,
apesar de sua aparência monstruosa, tem um bom coração (na verdade, a criatura
era um príncipe que tinha sido enfeitiçado anos antes).”
e)
“Durante vários dias, a Fera pede que Bela se case com ele, mas a garota rejeita
o pedido
alegando que seu companheiro era muito feio.”
01. 02. Releia:
“Logo ela percebe
que
a Fera [...] tem um bom coração [...].”. A relação sintático-semântica revelada
no trecho está mantida em qual proposta
de reescrita?
a)
Embora
ela perceba que a Fera tem um bom coração.
b)
Portanto, ela percebe que a Fera tem um bom coração.
c)
Cedo ela percebe que a Fera tem um bom coração.
d)
Mas ela percebe que a Fera tem
um bom coração.
e)
Lá ela percebe que a Fera tem um bom
coração.
Nossa feminista
viveria um conto de fadas, mas o príncipe era um
cancelado
Era
uma vez, em um reino não tão distante, na cidade do Rio de Janeiro, uma jovem
mulher que não usava tiara nem tinha pais importantes, mas, quando saía de
casa, era abordada por homens desconhecidos que a chamavam de princesa. Sim,
nossa mocinha era feminista e lutava por um mundo
em que mulheres pudessem passear sozinhas no bosque, sem se sentir ameaçadas.
Até
que, certa noite, num karaokê, ela se arriscou a cantar uma música da Kate Bush,
quase estourou os copos do estabelecimento, e chamou a atenção de um rapaz que
em nada parecia um príncipe. Ele não enalteceu seus atributos físicos, não tentou beijá-la nem a perseguiu quando ela
decidiu ir embora. Era o início de uma história de amor. Mas nossa antiprincesa
estava decidida a vivê-la sem abrir mão de sua individualidade. O que ela não
sabia é que estava prestes a protagonizar uma releitura contemporânea do mais
abominável dos contos de fada, "A Bela e a Fera".
Ele
era avesso a redes sociais, o que parecia extremamente sexy em meio à surra de
selfies e superexposição à qual ela estava acostumada. Mas uma simples busca no
Google foi suficiente para desconstruir o tal desconstruído. E assim ela
descobriu que seu grande amor era... Cancelado. Um desabafo publicado pela
ex-namorada dele sobre a relação abusiva que os dois tiveram repercutiu entre
mulheres que viveram situações semelhantes.
É possível se desapaixonar? Parte da Ciência diz que é possível se desapaixonar de forma arbitrária.
Ele
tentou se justificar. Disse que sua ex sofria de transtornos psicológicos (o
famoso conto da "ex louca"). Que não era mais aquele cara de outrora
(o famoso conto do "juro que vou
mudar"). E implorou para que ela
não desistisse de uma relação tão especial (o famoso conto do "você não
vai encontrar nada melhor").
Mesmo
sem acreditar em contos de fadas, ela sabia que era mais provável reverter a
maldição de uma bruxa do que um cancelamento. E eles não foram felizes para
sempre.
CANTUÁRIA, Manuela. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/manuela-cantuaria/2022/07/nossa-feminista-viveria-um-conto-
de-fadas-mas-o-principe-era-um-cancelado.shtml Acesso
em: 02 jul. 2022. (Adaptado)
03 Sabemos
que os textos, literários ou não literários, mantêm relações estreitas com o
seu contexto de produção: a época, o lugar, as experiências e modos de pensar
do autor ou da autora. Assim, considere o contexto espaço-temporal e cultural
de produção e circulação do Texto 4 e
assinale a afirmativa CORRETA.
a)
O texto trata dos
conflitos vividos pela mulher de hoje: vivendo em um ambiente modernamente
digital e pleno do ideal feminista, a protagonista é parte de um feminismo
empoderado, mas ainda está presa ao ideal do “felizes para sempre”.
b)
A inserção de A Bela e a Fera no Texto 4 constitui uma
ironia, um antimodelo à realidade feminina atual, uma espécie de lente mágica
que amplia o olhar sobre a violência por vezes disfarçada que vitimiza muitas
mulheres de hoje.
c)
O texto de Manuela
Cantuária se opõe frontalmente à contemporaneidade, na medida em que deprecia o
feminismo e práticas contemporâneas, como os seguintes elementos citados: busca
no Google, karaokê, selfies,
superexposição, cancelamento.
d)
Na construção do texto,
o conjunto de palavras e expressões que remetem ao mundo dos contos de fadas, como “Era uma vez”, “príncipe”,
“felizes para sempre” etc., tem a
finalidade de construir a ideia
contemporânea de feminismo.
e)
O “rapaz que em nada
parecia um príncipe”, de certa forma, decepcionou a protagonista, já que ele quebrou as suas expectativas de um
final feliz quando, por exemplo, não elogiou a sua beleza nem tentou beijá-la.
04
a)
num conto de fadas
em que o príncipe é um homem cancelado.
b)
numa história que prioriza um vocabulário ligado ao mundo digital.
c)
na paródia de um famoso conto infantil com
um foco no humor.
d)
numa narrativa que destaca a desconstrução de uma fantasia.
e)
nas já naturalizadas histórias de violência cotidiana
contra mulheres.
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez
e aspereza do sentimento que lhe
sublevava o seio, e que parecia
ringir-lhe nos lábios
como aço.
— Aurélia! Que significa isto?
— Representamos
uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada.
Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é
tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo
mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e
resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
— Vendido! exclamou
Seixas ferido dentro
d’alma.
— Vendido,
sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um
marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado;
comprei-o. Custou- me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu
daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.
Aurélia proferiu estas palavras
desdobrando um papel, no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos. Não se pode exprimir o sarcasmo que
salpicava dos lábios da moça; nem a
indignação que vazava dessa alma profundamente revolta, no olhar implacável com
que ela flagelava o semblante do
marido.
ALENCAR, José de.
Senhora. Excerto. p. 38. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000011.pdf
Acesso em: 10 jun. 2022.
05.
Com base na leitura do Texto 5, considerando as
características do romance “Senhora”, de
José de Alencar, assinale a alternativa CORRETA.
a)
Aurélia é protagonista
na obra “Senhora” e revela a
submissão feminina, traço característico da prosa romântica, para adaptar-se
aos costumes sociais da elite paulistana, transformando sua origem humilde em
fortaleza contra as falsidades e a hipocrisia da sociedade.
b)
O romance “Senhora” é exemplo da prosa regionalista
de José de Alencar e faz parte do projeto do
autor na representação de perfis femininos, com imagens de mulheres
independentes e revolucionárias, como também ocorre nas obras “Lucíola” e “Diva”.
c)
Na
obra “Senhora”, o casamento é abordado
como uma relação comercial, como fica evidente no Texto 5, quando Aurélia afirma: “Sou
rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável
às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o”.
d)
No Texto 5, a descrição de Aurélia é realizada com elementos poéticos
que indicam o perfil feminino submisso e idealizado, traços característicos da
prosa neorrealista de Alencar, como se nota em: “A voz da moça tomara o
timbre cristalino, eco da rispidez e
aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos
lábios como aço”.
e)
O discurso direto de Aurélia, no Texto 5, mostra a reafirmação do casamento nos moldes da prosa
romântica idealizada, quando a personagem se refere à representação de uma
comédia na qual cada um tem seu papel.
Padre Júlio Lancellotti: “Não
se humaniza a vida numa sociedade como a
nossa sem conflito”
Líder
religioso, conhecido por seu trabalho
com a população em situação de rua em São Paulo,
fala ao EL PAÍS sobre seus 35
anos de sacerdócio. Alvo de críticas da extrema direita, ele voltou a sofrer
ameaças durante a pandemia.
São
oito horas da manhã de quinta-feira, 17 de setembro, e o padre Júlio
Lancellotti (São Paulo,
1948) veste jaleco branco, avental laranja, sandálias pretas, luvas de látex e
uma máscara respiratória rosa com filtro embutido. Há uma fila de centenas de
pessoas para tomar café da manhã no Núcleo de
Convivência São
Martinho de Lima, da prefeitura da
capital paulista, e é o religioso quem aponta um termômetro para a testa de
cada uma delas. Aos 71 anos, pertence ao grupo mais propenso a desenvolver
complicações da covid-19,
mas nem uma pandemia tão longa e mortífera freou sua convivência diária com a população que
vive nas ruas de São Paulo.
Quando
Cassiano, de 40 anos, se juntou à fila com o corpo sujo, as roupas rasgadas,
machucado na testa e olhar triste, Lancellotti não hesitou em se aproximar e
tocar a cabeça do homem com as duas mãos. “Nós vamos cuidar de você”, disse,
com a voz suave.
Quando ele já estava sentado e
comendo, o padre se aproximou de novo para saber o que havia acontecido. Um
abraço demorado cobriu, então, a
cabeça do rapaz. Um carinho incomum que fez com que ele chorasse. “Não são
anjos ou demônios. Eu procuro ver os olhos deles... Tem os que estão com raiva,
tristes, solitários, alegres... Desses 40 anos, há quanto tempo Cassiano não
recebia um afeto?”, pergunta Lancellotti.
Sua
quinta-feira começou como todos os dias,
com uma missa na Igreja São
Miguel Arcanjo, da qual é pároco. Ali, no bairro da Mooca, zona
leste de São Paulo, mantém há 35 anos um compromisso constante com a população
em situação de vulnerabilidade. Costumava servir um café da manhã na própria
igreja para cerca de 200 pessoas. Veio a pandemia e o número praticamente
triplicou. As atividades tiveram de ser transferidas, com o aval da Prefeitura,
para o centro comunitário a algumas quadras dali. “Eu não trabalho com morador
de rua. Eu convivo com eles. Porque dizer „trabalhar‟ parece que
eles são objetos. É preciso olhar para a vida de forma humana. Isso não é
tarefa só para os religiosos. Mas eu
não conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida", explica.
[...] Até hoje Lancellotti segue vivendo na pequena casa, no bairro do Belém,
que era de sua mãe, Wilma, que morreu em 2010, aos 88 anos.
Felipe Betim.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-20/padre-julio-lancellotti-nao-se-humaniza-a-vida-numa-sociedade- como-a-nossa-sem-conflito.html
Acesso em: 02 ago. 2021. Excerto adaptado.
06. Nos
textos narrativos, são comuns partes que buscam descrever elementos como
ambientes e personagens. O Texto acima, de tipologia predominantemente narrativa, apresenta um
trecho notadamente descritivo
em:
a)
“Aos 71 anos, [o padre]
pertence ao grupo mais propenso a desenvolver complicações da covid-19, [...].”.
b) “Quando Cassiano, de 40 anos, se juntou à
fila com o corpo sujo, as roupas rasgadas, machucado na testa e olhar triste,
[...]”.
c)
“Quando
ele já estava sentado e comendo, o padre se aproximou de novo para saber o que havia
acontecido. Um abraço demorado
cobriu, então, a cabeça
do rapaz.”.
d)
“Sua
quinta-feira começou como todos os dias, com uma missa na Igreja São Miguel Arcanjo, da
qual é pároco.”.
e)
“Ali,
no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, mantém há 35 anos um compromisso constante
com a população em situação
de vulnerabilidade.”.
“Eu não trabalho com morador
de rua. Eu convivo com eles. Porque dizer
„trabalhar‟ parece que eles são objetos. É preciso olhar para a vida de forma
humana. Isso não é tarefa só para os religiosos. Mas eu não conseguiria viver a
dimensão religiosa sem humanizar a vida", explica.” (3º parágrafo)
07. Ainda considerando o trecho anterior, assinale a alternativa CORRETA quanto ao emprego de certos recursos da coesão e da
pontuação.
a)
Em: “Eu não trabalho com
morador de rua. Eu convivo com eles.”, o emprego do pronome “eles”
(destacado) gera incoerência, visto que pretende substituir “morador
de rua”.
b)
Também no trecho
anterior: “Eu não trabalho com morador
de rua. Eu convivo com eles.”, o emprego do ponto final para separar
as orações é obrigatório, mas a vírgula é a outra opção autorizada pelo uso
mais formal da língua.
c)
O trecho: “Eu não
trabalho com morador
de rua. Eu convivo com eles.” mantém o mesmo sentido em: “Eu não
trabalho com morador
de rua, porque eu convivo com eles.”.
d)
Em: “Isso não é tarefa só para os religiosos.”, o
termo destacado retoma o segmento “olhar para a vida de forma humana”.
e)
Uma proposta de
articulação que também atenderia os sentidos pretendidos entre os períodos a
seguir é: “Isso não é tarefa só para os religiosos, portanto eu não
conseguiria viver a dimensão religiosa sem humanizar a vida".
08. Leia,
compare e responda.
O canto do guerreiro
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de
bravos
Não geram
escravos,
Que estimem a
vida
Sem guerra e
lidar.
— Ouvi-me,
Guerreiros,
— Ouvi meu
cantar.
Valente na
guerra,
Quem há, como eu
sou?
Quem vibra o
tacape
Com mais
valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu
dou?
— Guerreiros,
ouvi-me;
— Quem há, como
eu sou?
Gonçalves Dias.
Macunaíma
(Epílogo)
Acabou-se a
história e morreu a vitória.
Não havia mais
ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se
acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles
campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos
misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira
do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo
nem contar aqueles casos
tão pançudos.
Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade.
A leitura comparativa dos dois textos acima indica que
a) ambos têm como
tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica,
como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
b) a abordagem da
temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos
povos indígenas do Brasil.
c) as perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1.o texto) e
“Quem podia saber do Herói?” (2.o texto) expressam diferentes visões da
realidade indígena brasileira.
d) o texto
romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas
como resultado do processo de colonização no Brasil.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam
expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como
demonstra a presença do narrador, no segundo texto.
09. Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta
a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais como líquida
esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de
coqueiros; Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que
o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Esse trecho é o início do romance Iracema, de José de
Alencar. Dele, como um todo, é possível afirmar que
a) Iracema é uma
lenda criada por Alencar para explicar poeticamente as origens das raças
indígenas da América.
b) as personagens Iracema, Martim e Moacir participam da luta
fratricida entre os Tabajaras e os Pitiguaras.
c) o romance, elaborado com recursos de linguagem figurada,
é considerado o exemplar mais perfeito da prosa poética na ficção romântica
brasileira.
d) o nome da
personagem-título é anagrama de América e essa relação caracteriza a obra como
um romance histórico.
e) a palavra Iracema é o resultado da aglutinação de duas outras
da língua guarani e significa “lábios de fel”.
10. No trecho abaixo, o
narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de
época: o Romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era
talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais
voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a
realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo
passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio
de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao
romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a
realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele
feitiço, precário e eterno, ...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...
e) ... o indivíduo passa a outro
indivíduo, para os fins secretos da criação.
11. Leia e responda
A PEDREIRA
Daí à pedreira, restavam apenas uns cinquenta passos e o chão
era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.
Aqui, ali, por toda a parte,
encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas
feitas de lona ou de folha de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de
outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão;
mais adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim
de ferramentas, e o martelar da forja, e o corpo dos que lá em cima brocavam a
rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço,
como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma
luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de
calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a
pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o
impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os
golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido
que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado
à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a
baixo, arrogante, num desafio surdo.
A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais
imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se
altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e
cheia de cordas que, mesquinhamente, lhe escorriam pela ciclópica nudez com um
efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam
espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas
que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos
pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra
o gigante.
(AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. 25a ed. São Paulo. Ática, 1992,
48-49)
Com relação aos romances
naturalistas, a exemplo do fragmento de texto apresentado anteriormente,
classifique as sentenças como verdadeiras (V) ou falsas (F).
( ) Retratam fatos que a
sociedade procura ocultar.
( ) O meio ambiente é
preponderante e determinante no comportamento do personagem.
( ) O enredo é carregado de determinismo e
fatalismo.
( ) O meio social, a hereditariedade, os
instintos determinam os conflitos e a vida do homem.
( ) Personagens humildes são fotografados em
situações chocantes para o leitor da época.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de
cima para baixo.
a)
V, V, F, F, V
b) F, V, F, V, V
c) F, F, V, V, F
d) V, F, F, V, V
e) F, V,V,V,V
12. Leia, compare, reflita e responda:
TEXTO 1
Charge
de Benett para Folha, com publicação na edição impressa de 28 de fevereiro de
2023.
TEXTO 2
Trabalhadores de
colheita de uva são resgatados em regime análogo à escravidão no Rio Grande do
Sul
OUTRO LADO:
vinícolas dizem que respeitam as leis, que contrato com fornecedor de empresa
terceirizada foi rompido e que se solidarizam com trabalhadores
Folha de São
Paulo, 24 de fev. 2023.
TEXTO
3
LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
TEXTO 4
Navio negreiro
São os
filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São
mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
ALVES, Castro. O navio negreiro. Disponível em:
<
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action
=&co_obra=1786 >. Acesso em: 7 abr. 2025.
Compare
os quatro textos e assinale a alternativa que não condiz com os nossos
estudos literários.
A) Os quatro textos,
guardadas as devidas proporções, têm o mesmo fio temático, porém cada um traz
uma perspectiva diferente do tratamento dado ao humano.
B) O TEXTO 1 e o TEXTO 4 se distanciam pela questão cronológica, no entanto se
aproximam no que diz respeito a exploração do humano.
C) Os TEXTOS 1 e 2 podem ser relacionados às reflexões do Condoreirismo romântico.
D) As imagens
presentes no TEXTO 1 fazem
intertexto com as telas do pintor francês Jean-Baptista Debret.
E) A fase
Social ou Libertária do Romantismo intencionou acelerar o processo
abolicionista, como se vê na ideia central do TEXTO 2.
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