01. “Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu
também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu
morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo
especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que
dá o título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de
questões, que nos levariam longe... Eia! chora os dous recentes mortos, se tens
lágrimas. Se só tens riso, ri-te! É a mesma cousa. O Cruzeiro, que a linda
Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir
os risos e as lágrimas dos homens."
Machado de Assis
Machado de Assis filia-se
(e o trecho é exemplo disso) ao estilo de época do:
a) Arcadismo
b) Romantismo
c) Realismo👀
d) Simbolismo
e) Modernismo.
02. A PEDREIRA
Daí à pedreira, restavam apenas uns cinquenta passos e o chão
era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.
Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns
ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folha de
palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta;
de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam
paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o
martelar da forja, e o corpo dos que lá em cima brocavam a rocha para
lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma
aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de
vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor,
desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra,
pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o
impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os
golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido
que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado
à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a
baixo, arrogante, num desafio surdo.
A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais
imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se
altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e
cheia de cordas que, mesquinhamente, lhe escorriam pela ciclópica nudez com um
efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam
espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas
que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos
pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra
o gigante.
(AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. 25a ed. São Paulo. Ática, 1992,
48-49)
Com relação aos romances
naturalistas, a exemplo do fragmento de texto apresentado anteriormente,
classifique as sentenças como verdadeiras (V) ou falsas (F).
( V ) Retratam fatos que a
sociedade procura ocultar.
( V ) O meio ambiente é preponderante e
determinante no comportamento do personagem.
( F ) O enredo é carregado
de determinismo e fatalismo.
( F ) O meio social, a hereditariedade, os instintos determinam os
conflitos e a vida do homem.
( V ) Personagens humildes são fotografados em situações chocantes
para o leitor da época.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de
cima para baixo.
a) V, V, F, F, V👀
b) F, V, F, V, V
c) F, F, V, V, F
d) V, F, F, V, V
e) V, F, V, V, F
03. A questão a seguir
baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo
(1857-1913).
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem
casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os
tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de
camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos
sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo
desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos
de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a
trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam
sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha
acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de
cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada,
escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter
fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem
sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo,
com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de
maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento
da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de
brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o
narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado
em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador
é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de
modo mais direto e explícito em
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem
casinhas ameaçadas pelo fogo.👀
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se
despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma
fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o
madeiramento da casa incendiada...
04. A valsa é uma deliciosa cousa. Valsamos; não nego que, ao
aconchegar ao meu corpo aquele corpo flexível e magnífico, tive uma singular
sensação, uma sensação de homem roubado. (...)
Cerca de três semanas depois recebi um convite dele [Lobo
Neves, marido de Virgília] para uma reunião íntima. Fui; Virgília
recebeu-me com esta graciosa palavra: - O senhor hoje há de valsar comigo. Em
verdade, eu tinha fama e era valsista emérito; não admira que ela me
preferisse. Valsamos uma vez, e mais outra vez. Um livro perdeu Francesca; cá
foi a valsa que nos perdeu. Creio que nessa noite apertei-lhe a mão com muita
força, e ela deixou-a ficar, como esquecida, e eu a abraçá-la, e todos com os
olhos em nós, e nos outros que também se abraçavam e giravam ... Um delírio.
Machado de Assis
Obs.: o amor luxurioso entre Francesca da Rimini e Paolo
Malatesta obriga Dante Alighieri a colocá-los no Inferno, em sua Divina
Comédia. O livro que os perdeu é a narrativa do amor adulterino de
Lancelote do Lago e Ginebra, mulher do Rei Artur - uma novela de cavalaria
pertencente ao ciclo bretão.
Em texto sobre O primo Basílio, de Eça de Queirós,
Machado de Assis afirma: “o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele
é simplesmente o tom próprio”. Assinala que o escritor português já provocara
admiração dos leitores com O crime do
Padre Amaro e acrescenta: “Pois que havia de fazer a maioria, senão
admirar a fidelidade de um autor, que não esquece nada, e não oculta nada?
Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia em que nos disser
o número exato dos fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão de
cozinha.”
Considerados o estilo de Machado e seu contexto, deve-se
compreender as palavras acima destacadas como
a) elogio a uma
prática inovadora que o autor brasileiro adotou desde a obra inicial, tornando-se
o maior representante do Realismo no Brasil.
b) recusa do
Realismo entendido como reprodução fotográfica, que não propicia a escolha dos
detalhes mais significativos de uma situação ou perfil humano.👀
c) crítica à “velha
poética”, que, mais sutil, mais sugeria do que explicitava, negando-se a
descrições detalhadas.
d) negação dos
procedimentos típicos dos escritores românticos, que, evitando a observação da
realidade, em nada podiam contribuir para a formação da consciência da
nacionalidade.
e) elogio ao público pelo reconhecimento do valor do escritor
português, fiel à descrição e avaliação da sociedade burguesa que retrata em
suas obras.
05. No trecho abaixo, o
narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de
época: o Romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era
talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais
voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as
mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a
realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo
passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio
de Janeiro: Jackson,1957.
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas
e espinhas ...👀
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele
feitiço, precário e eterno, ...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins
secretos da criação.
06. O poeta francês Charles
Baudelaire, citado por Ferreira Gullar, escreveu em “As Flores do Mal” os
famosos versos (traduzidos):
Como longos ecos que ao longe se
confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons...
Esses versos traduzem algo
de influência destacada na literatura brasileira nos fins do século XIX.
Trata-se da:
a) “torre-de-marfim”, lugar isolado e distante dos problemas
sociais e existenciais, para onde se refugiavam os parnasianos.
b) “teoria do Humanitismo”, princípio norteador das personagens
machadianas, no qual prevalece a lei do mais forte.
c) “teoria das correspondências”, relação entre as diferentes
esferas dos sentidos, ideário tão fundamental aos simbolistas.👀
d) “poesia marianista”, poemas de culto e exaltação a Virgem
Maria (figura que se confunde com a amada do poeta).
e) “poesia pau-brasil”, poesia de exportação que resgata o
primitivismo cultural.
07. Sobre O cortiço e
O alienista NÃO é correto afirmar que:
a) São textos literários que demonstram criticamente os impasses
da modernidade nascente no Brasil, suas contradições e suas problemáticas
relações de classe e poder.
b) Representam um olhar ainda dependente das verdades
científicas e intelectuais vindas da Europa, sobretudo da França, por isso são
obras secundárias de seus autores, que só posteriormente alcançariam a
“maioridade” literária.👀
c) Estão na alvorada de uma dimensão verdadeiramente crítica da
literatura brasileira, não se filiando servilmente aos padrões literários, e
políticos, impostos pela Europa, nem tampouco ao idealismo ingênuo dos
românticos.
d) Cada um a seu modo, não se enquadram no pedantismo e na
linguagem bacharelesca de seus contemporâneos. Lutam, ao contrário, por uma
língua portuguesa mais direta e menos artificial.
e) São exemplos do realismo internacional que tomou conta da
literatura do ocidente a partir da década de 1850, sem deixarem de ser autores
inseridos na problemática especificamente brasileira do Rio de Janeiro da segunda
metade do século XIX.
08. Sobre o Realismo,
assinale a alternativa INCORRETA.
a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.👀
b) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam
movimentos diferentes.
c) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do
século XIX.
d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu
Madame Bovary.
e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores
brasileiros.
09. Tendo em vista as diferenças entre O primo Basílio e Memórias
póstumas de Brás Cubas, conclui-se corretamente que esses romances podem
ser classificados igualmente como realistas apenas na medida em que ambos
a) aplicam, na sua elaboração, os princípios teóricos da Escola
Realista, criada na França por Émile Zola.
b) se constituem como romances de tese, procurando demonstrar
cientificamente seus pontos de vista sobre a sociedade.
c) se opõem às idealizações românticas e observam de modo
crítico a sociedade e os interesses individuais.👀
d) operam uma crítica cerrada das leituras romanescas, que
consideram responsáveis pelas falhas da educação da mulher.
e) têm como objetivos principais criticar as mazelas da
sociedade e propor soluções para erradicá-las.
10. Na obra-prima que é o
romance O CORTIÇO,
a) podemos surpreender as características básicas da prosa
romântica: narrativa passional, tipos humanos idealizados, disputa entre o
interesse material e os sentimentos mais nobres.👀
b) as personagens são apresentadas sob o ponto de vista
psicológico, desnudando-se ante os olhos do leitor graças à delicada sutileza
com que o autor as analisa e expressa.
c) o leitor é transportado ao doloroso universo dos miseráveis e
oprimidos migrantes que, tangidos pela seca, abrigam-se em acomodações
coletivas, à espera de uma oportunidade.
d) vemos renascer, na década de 30 do nosso século, uma prosa
viril, de cunho regionalista, atenta às nossas mazelas sociais e capaz de
objetivar em estilo seco parte de nossa dura realidade.
e) consagra-se entre nós a prosa naturalista, marcada pela
associação direta entre meio e personagens e pelo estilo agressivo que está a
serviço das teses deterministas da época.
11. Considere as
seguintes afirmações do crítico literário Antonio Candido, sobre O cortiço,
de Aluísio de Azevedo:
I. A perspectiva naturalista ajuda a compreender o mecanismo
d’O cortiço, porque o mecanismo do cortiço nele descrito é regido por um
determinismo estrito, que mostra a natureza (meio) condicionando o grupo (raça)
e ambos definindo as relações humanas na habitação coletiva. Mas esta força
determinante de fora para dentro é contrabalançada e compensada por uma força
que atua de dentro para fora: o mecanismo de exploração do português, que rompe
as contingências e, a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio. O
projeto do ganhador de dinheiro aproveita as circunstâncias transformando-as em
vantagens, e esta tensão ambígua pode talvez ser considerada um dos núcleos
germinais da narrativa.
II. No começo é como se o cortiço fosse regido por lei
biológica; entretanto a vontade de João Romão parece ir atenuando o ritmo
espontâneo, em troca de um caráter mais mecânico de planejamento. Ele usa as
forças do meio, não se submete a ela; se o fizesse, perderia a oportunidade de
se tornar capitalista e se transformaria num episódio do processo natural, como
acontece com seu patrício Jerônimo, que opta pela adesão à terra e é tragado
por ela.
III. Neste livro a natureza do Brasil é interpretada de um
ângulo curiosamente colonialista (para usar anacronicamente a linguagem de
agora) como algo incompatível com as virtudes da civilização. Daí o homem
forte, o estrangeiro ganhador de dinheiro estar sempre vigilante, como única
solução, de chicote em punho e as distâncias marcadas com o nativo.
É pertinente ao romance de Aluísio de Azevedo:
a) Apenas I e II
b) Todas as afirmações👀
c) Apenas I e III
d) Apenas II e III
e) Nenhuma afirmação
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