🙋3o. ANO => ENSINO MÉDIO => MODERNISMO E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
01. Um dos maiores benefícios que o movimento
moderno nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a literatura brasileira.
Alegre quer dizer saudável, viva, consciente de sua força, satisfeita com seu
destino. Até então no Brasil a preocupação de todo escritor era parecer grave e
severo. O riso era proibido. A pena molhava-se no tinteiro da tristeza e do
pessimismo. O papel servia de lenço. De tal forma que os livros espremidos só
derramavam lágrimas. Se alguma ideia caía vinha num pingo delas. A literatura
nacional não passava de uma queixa gemebunda.
Por isso mesmo o segundo
tranco da reação foi mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura
brasileira mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do motivo quando
inevitável. Rindo como um moleque.
(Antonio
de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.)
Entre os textos de Manuel Bandeira (de O Ritmo dissoluto),
transcritos nas cinco alternativas, aquele que comprova a opinião de Alcântara
Machado é
a) E enquanto a mansa
tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do
mar
Toda a minh’alma foge na
brisa;
Tenho
vontade de me matar.
b) A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de
fragilidade e de incerteza.
c) Sorri mansamente... em
um sorriso pálido... pálido
Como o beijo religioso que
puseste
Na fronte morta de tua
mãe... sobre a sua fronte
morta...
d) Noite morta.
Junto ao poste de
iluminação
Os sapos engolem
mosquitos.
e) A meiga e triste
rapariga
Punha talvez nessa cantiga
A sua dor e mais a dor de
sua raça...
Pobre mulher,
sombria filha da desgraça!
02. Leia o poema abaixo, de Cecília Meireles:
Reinvenção
A vida só é possível
Reinventada.
Anda o sol pelas Campinas
E passeia a mão dourada
Pelas águas, pelas
folhas...
Ah! Tudo bolhas
Que vêm de fundas piscinas
De ilusionismo... - mais
nada.
Mas a vida, a vida, a
vida,
A vida só é possível
Reinventada.
Vem a lua, vem, retira
As algemas dos meus
braços.
Projeto-me por espaços
Cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
Da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te
alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
Desprendo-me do balanço
Que além do tempo me leva.
Só - na treva,
Fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida,
A vida só é possível
Reinventada.
Nesse poema aparece expressa a seguinte oposição fundamental:
a) vida versus morte.
b) realidade versus
ficção.
c) presença versus
ausência.
d) dia versus noite.
e)
liberdade versus prisão.
03. O
existencialismo ocupa-se fundamentalmente com o modo de ser do homem no mundo
(existência), entendida como a atualização ou realização de nossas
possibilidades intrínsecas. (...) Por isso a filosofia nada mais é que a
tentativa de penetração e análise de nossa condição no mundo, entre os outros e
as coisas. (Prof. Fernando Teixeira). Dos
trechos abaixo, extraídos da obra de Clarice Lispector, assinale aquele que NÃO
ilustra claramente essa
afirmação:
a) “Perdi alguma coisa que me era essencial, que já não me é
mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna
que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé
estável” (A Paixão Segundo G.H.).
b) “Eu estava agora tão
maior que não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe (...) como
poderei dizer senão timidamente: a vida se me é. A vida se me é, e eu não
entendo o que diga. Então adoro.” (idem)
c) “Estou tentando me
entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem , mas não quero
ficar com o que vivi.” (idem)
d) “Eu queria escrever um
livro. Mas onde estão as palavras? esgotaram-se os significados. Como surdos e
mudos comunicamo-nos com as mãos.” (Um Sopro de Vida)
e) “Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do
é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro: em fogos de
artifício eles espocam mudos no espaço.” (Água Viva)
04. Leia os poemas de Cecília Meireles,
retirados de Viagem e Vaga Música:
Retrato
Eu não tinha este rosto de
hoje,
Assim calmo, assim triste,
assim magro,
Nem estes olhos tão
vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos
sem força,
Tão paradas e frias e
mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não
dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa,
tão fácil:
- Em que espelho ficou
perdida
A minha face?
Epigrama do espelho infiel
(a João de Castro Osório)
Entre o desenho do meu
rosto
e o seu reflexo,
meu sonho agoniza,
perplexo.
Ah! Pobres linhas do meu
rosto
desmanchadas do lado
oposto,
e sem nexo!
E a lágrima do seu
desgosto
Sumida no espelho convexo.
Assinale a afirmativa INCORRETA:
a) Os dois poemas retratam
a passagem do tempo.
b) O segundo poema pode
ser lido como uma resposta à pergunta final do primeiro.
c) Os dois poemas
apresentam o eu lírico conformado diante da mudança inexorável da vida.
d) No primeiro poema, o eu
lírico se tornou menos emotivo com as mudanças sofridas através do tempo.
e) Os
dois poemas contêm uma característica marcante da poética ceciliana: a reflexão
sobre o humano.
05. São características dos poemas de Viagem
e Vaga Música,
de Cecília Meireles, EXCETO:
a) Presença de elementos
provenientes do mundo da natureza, como: vento, ar, pássaro, flor...
b) Utilização de métrica e
rima, apesar da predominância dos versos livres.
c) Conteúdo intensamente
lírico e musicalidade delicada, expressos em poemas curtos.
d) Expressão da
transitoriedade da vida e da efemeridade da existência.
e)
Negação da transcendência da realidade enquanto tema existencial.
06. O livro de contos A Guerra Conjugal, de Dalton Trevisan,
publicado em 1969, reatualiza alguns temas da ficção realista-naturalista do
século XIX, e registra de forma crua a vida nos grandes centros urbanos. Nesse
sentido, é correto afirmar que nessa obra
a) os casais
protagonistas, da média e alta burguesia, como nos romances de Machado de
Assis, vivem sempre conflitos ligados ao adultério.
b) os protagonistas dos
contos estão quase sempre envolvidos em conflitos conjugais e familiares, que
levam à violência e à perversão.
c) a maior parte dos
contos retrata dramas de casais massacrados por um cotidiano miserável e por
uma vida sem perspectivas.
d) quase todos os casais
(denominados sempre de João e Maria) vivem dramas naturalistas, gerados por
taras e perversões sexuais.
e) as
personagens são de classe média; vivem na periferia de grandes cidades,
mergulhadas numa grande miséria existencial e cultural.
07. O conto “A felicidade
clandestina” narra um episódio de crueldade entre adolescentes. O motivo é o
empréstimo de um livro de Monteiro Lobato.
Assinale a alternativa que contém a resposta correta para
qualificar a situação narrada.
a) trata da ofegante
espera do livro prometido.
b) Trata de um episódio
sobre empréstimo de livros numa biblioteca.
c) trata da gratuidade da
opressão de uma adolescente sobre a outra.
d) trata da solução mágica
representada pela mãe de uma das personagens.
e) trata
de personagens neurotizadas pela falta de leitura.
08. Nelson Rodrigues escreveu Vestido
de Noiva e
este texto acabou sendo considerado a grande
renovação da dramaturgia brasileira contemporânea. O que dá
originalidade e peso ao texto deste autor e sustenta o interesse da peça é
a) o esquema narrativo
simples, ou seja, o desastre, a tentativa de salvar a protagonista Alaíde, consequente
morte.
b) o diagnóstico de uma
realidade social terrível, protagonizada pela instituição familiar, cujas deformações
são provocadas fundamentalmente por atitudes repressivas.
c) o uso de diferentes
planos para narrar os acontecimentos que dão corpo ao texto, quais sejam o da
memória, o da realidade e o da alucinação.
d) o encontro imaginário
entre Alaíde e Madame Clessi, simbolizado nos conflitos sexuais e nas fantasias
românticas de um amor entre uma prostituta e um adolescente.
e) a
absoluta independência entre os vários planos da peça, justificada pela
presença marcante da realidade que proporciona conclusão para a intriga.
09. O Auto, jogo linguístico de origem medieval, peça em que
certas atitudes consideradas “pecaminosas” eram “questionadas” através de uma
carga de humor, foi incorporado à produção literária brasileira (ou literatura
feita no Brasil, como bem fez o padre José de Anchieta com a sua escrita
evangelizadora e moralística), de forma que, mesmo distante no tempo e no
espaço, este tipo de texto alcança um vasto público, como é o caso de O auto
da Compadecida, de Ariano Suassuna. Considerando os fragmentos abaixo,
marque a alternativa correta:
[...]
PADRE
É, mas quem vai ficar
engraçado sou eu, benzendo o cachorro.
Benzer motor á fácil, todo
mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO
É, Chicó, o padre tem
razão. Quem vai ficar engraçado é ele e
uma coisa é benzer o motor
do major Antônio de Morais e outra
é benzer o cachorro do
major Antônio de Morais.
[...]
BISPO
Então houve isso? Um
cachorro enterrado em latim?
JOÃO GRILO
E então? É proibido?
BISPO
Se é proibido? Deve ser,
porque é engraçado demais para não
ser. É proibido! É mais do
que proibido! Código Canônico,
Artigo 1627, parágrafo
único, letra k. Padre, o senhor vai ser
suspenso
[...]
JOÃO GRILO
É mesmo, é uma vergonha.
Um cachorro safado daquele se
atreve a deixar três
contos para o sacristão, quatro para o padre
e seis para o bispo, é
demais.
[...]
BISPO
É por isso que eu vivo
dizendo que os animais também são
criaturas de Deus. Que
animal interessante! Que sentimento
nobre!
a) O Auto da
Compadecida mantém relação direta com os autos medievais a partir somente
do tipo formal de texto - auto - porque o conteúdo a ser desenvolvido neste
tipo de literatura varia no tempo e no espaço de forma que um escritor
contemporâneo não poderia recuperar nem atualizar esta forma textual.
b) “Os vícios dos homens e
da sociedade” são apenas uma forma bem humorada de perceber o mundo, de
entreter a razão, de valer o texto por si mesmo, independente de alusão ou
denúncia a que faça referência porque o riso, e somente o riso, é o que está em
primeiro plano neste tipo de texto.
c) O Auto da
Compadecida não faz nenhuma alusão ao teatro de Gil Vicente porque dista
deste no tempo e no espaço, logo os “vícios dos homens e da sociedade” não
poderiam ser os mesmos. O texto de Ariano Suassuna é apenas uma paródia dos
autos medievais.
d) O Auto da
Compadecida não tem caráter moralístico porque a literatura de ficção nunca
se propôs a discutir aspectos relacionados a contextos sócio-culturais, uma vez
que se volta para o plano estético, desconsiderando qualquer alusão a práticas
culturais, a papéis sociais e outros.
e) “Os
vícios dos homens e da sociedade estão em todas as peças de Gil Vicente,
representados por frades libertinos, magistrados corruptos, mulheres adúlteras
[...] tipos que proliferam quando as sociedades esquecem os valores éticos e
morais” (João Domingues Maia), característica observada na peça de Ariano
Suassuna O Auto da Compadecida.
10. A questão seguinte baseia-se no poema concreto Epithalamium
II, de Pedro Xisto (1901-1987).
Pressupostos teóricos da Poesia Concreta propõem a realização de
um poema-objeto, isto é, uma obra que informa por meio de sua própria estrutura
(estrutura = conteúdo); valoriza, entre outros elementos, o espaço em branco da
página, como produtor de sentidos, e a utilização de formas visuais. Em várias
edições de Epithalamium II (epitalâmio = canto ou poema nupcial), aparecem as
seguintes indicações: he = ele; & = e; S = serpens; h = homo; e = Eva.
Observe o poema, e, medianteas indicações do autor, aponte, dentre as
alternativas, aquela que mais se aproxima da mensagem da obra.
a) As três letras,
dispostas de modo a produzir uma imagem visual, denotam que o homem e a mulher,
representados pelos pronomes pessoais, em inglês, foram coisificados e, após,
separados um do outro, pelo pecado original (Adão e Eva).
b) A letra S, que desenha
e escreve She, ao mesmo tempo que compõe as formas sinuosas de uma serpente (=
pecado), parece que enlaça o he. Poderia evocar, por um lado, que os gêneros
humanos se completam, um no outro, e, por outro, a supremacia da feminilidade
sobre a masculinidade, já que he (= ele) é configurado no interior de She (=
ela).
c) O &, que se desenha no poema, revela, por um lado, a
desintegração mulher/homem (representados em inglês) e, por outro, a situação
dos seres humanos no mundo capitalista. Isto se justifica pelo fato de &
lembrar a forma com que se designa a razão social das empresas.
d) O significado do poema
se esgota na simples contemplação do mesmo, como se fosse o logotipo de uma
empresa. O She e o he comparecem como artifícios provocativos que disfarçam os
significados de si próprios. Neste sentido, masculinidade e feminilidade se
anulam.
e) Não há hierarquia entre She (= ela) e he (= ele), uma vez que
esses pronomes pessoais estão desenhados em forma vertical no espaço branco da
página, e não horizontalmente, como seria comum na poesia tradicional.
11. Observe, abaixo, os capítulos de romances e os comentários
sobre eles, em seguida assinale a alternativa correta:
Memórias póstumas de Brás
Cubas (Machado de Assis, 1881)
Capítulo LV
O velho diálogo de Adão e Eva
BRÁS CUBAS
. . . . ?
VIRGÍLIA
. . . .
BRÁS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . .
VIRGÍLIA
. . . . . !
BRÁS CUBAS
. . . . . .
VIRGÍLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .? . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
BRÁS CUBAS
. . . . . . . . .
VIRGÍLIA
. . . .
BRÁS CUBAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . .
. . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . !
VIRGÍLIA
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . ?
BRÁS CUBAS
. . . . . . !
VIRGÍLIA
. . . . . . !
Memórias sentimentais de
João Miramar (Oswald de Andrade, 1924):
MONT-CENES
O alpinista
De alpenstock
Desceu
Nos Alpes
Zero (Ignácio de Loyola Brandão, 1975)
LIÇÃO DE GEOGRAFIA
Colômbia:
1.283.400 km², café, algodão e cana-de-açúcar, trigo e milho, United Fruit,
petróleo, moeda oficial: o peso.
Adeus, adeus
Acaba de embarcar, de
mudança para a University of Michigan, o cientista Carlos Correia, a maior
autoridade do país em comunicações eletrônicas. Ganhando aqui um salário pouco
acima do mínimo e sem condições de pesquisa, o sr. Carlos Correia preferiu se
retirar por uns tempos até que a situação melhore.
Livre associação
Cine odeon, paratodos,
robinhood com errol flynn, perfume canoe (dana), balas de hortelã, pegar nos
peitos das meninas, tim holt, hopalong cassidy, bill Elliot, roy rogers, ken
maynard, zorro, bang-bang, clélia. Pam, tapam, rataplam, crééééééééééééééé,
puuuuuuuuu (peido) when béguin the beguine, bandera rossa, pim, pim, pim, pim,
pim, clap, clap, clop
I. Os capítulos demonstram
a influência nociva dos meios de comunicação de massa na literatura, fazendo-a
perder sua essência literária em prol de uma incorporação da linguagem vulgar
que falamos no dia a dia. Nestes capítulos, a “língua para poucos” da
literatura perde valor, o que explica a baixa qualidade da literatura moderna
no Brasil.
II. Os capítulos citados
revelam que o romance brasileiro vem mantendo um diálogo fecundo e constante
com os meios de comunicação do mundo capitalista moderno: o dinamismo da página
de jornal em Machado de Assis, a montagem cinematográfica em Oswald de Andrade,
o ritmo fragmentário da televisão em Ignácio de Loyola Brandão.
III. Os fragmentos
romanescos citados são exemplos, na literatura brasileira, da tradição de
ruptura com o realismo tradicional e o regionalismo, visando a absorção da
cultura urbana e da visão de mundo do homem das cidades.
IV. Embora parte
integrante de um romance, os capítulos acima citados são exemplos de uma
instigante tendência da literatura brasileira moderna e contemporânea que faz
interagir o romance com outras formas literárias, rompendo o limite entre a
prosa e a poesia. Como outros textos da literatura brasileira moderna, Memórias
póstumas de Brás Cubas, Memórias sentimentais de João Miramar e Zero criam
capítulos de romance que mais se parecem com poemas em prosa do que com
capítulos de romance.
a) Apenas os comentários
II, III e IV estão corretos;
b) Apenas o comentário I
está correto;
c) Apenas os comentários I
e II estão corretos;
d) Todos os comentários
estão corretos;
e) Nenhum
comentário está correto.
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