terça-feira, 26 de outubro de 2021

MODERNISMO E TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

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01.  Um dos maiores benefícios que o movimento moderno nos trouxe foi justamente esse: tornar alegre a literatura brasileira. Alegre quer dizer saudável, viva, consciente de sua força, satisfeita com seu destino. Até então no Brasil a preocupação de todo escritor era parecer grave e severo. O riso era proibido. A pena molhava-se no tinteiro da tristeza e do pessimismo. O papel servia de lenço. De tal forma que os livros espremidos só derramavam lágrimas. Se alguma ideia caía vinha num pingo delas. A literatura nacional não passava de uma queixa gemebunda.

Por isso mesmo o segundo tranco da reação foi mais difícil: integração no ambiente. Fazer literatura brasileira mas sem choro. Disfarçando sempre a tristeza do motivo quando inevitável. Rindo como um moleque.

(Antonio de Alcântara Machado, Cavaquinho e saxofone.)

Entre os textos de Manuel Bandeira (de O Ritmo dissoluto), transcritos nas cinco alternativas, aquele que comprova a opinião de Alcântara Machado é

a) E enquanto a mansa tarde agoniza,

Por entre a névoa fria do mar

Toda a minh’alma foge na brisa;

Tenho vontade de me matar.

b) A beleza é um conceito.

E a beleza é triste.

Não é triste em si,

Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

c) Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido

Como o beijo religioso que puseste

Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte

morta...

d) Noite morta.

Junto ao poste de iluminação

Os sapos engolem mosquitos.

e) A meiga e triste rapariga

Punha talvez nessa cantiga

A sua dor e mais a dor de sua raça...

Pobre mulher, sombria filha da desgraça!

02. Leia o poema abaixo, de Cecília Meireles:

Reinvenção

A vida só é possível

Reinventada.

Anda o sol pelas Campinas

E passeia a mão dourada

Pelas águas, pelas folhas...

Ah! Tudo bolhas

Que vêm de fundas piscinas

De ilusionismo... - mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,

A vida só é possível

Reinventada.

Vem a lua, vem, retira

As algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

Cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

Da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...

Só - no tempo equilibrada,

Desprendo-me do balanço

Que além do tempo me leva.

Só - na treva,

Fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida,

A vida só é possível

Reinventada.

Nesse poema aparece expressa a seguinte oposição fundamental:

a) vida versus morte.

b) realidade versus ficção.

c) presença versus ausência.

d) dia versus noite.

e) liberdade versus prisão.

03. O existencialismo ocupa-se fundamentalmente com o modo de ser do homem no mundo (existência), entendida como a atualização ou realização de nossas possibilidades intrínsecas. (...) Por isso a filosofia nada mais é que a tentativa de penetração e análise de nossa condição no mundo, entre os outros e as coisas. (Prof. Fernando Teixeira). Dos trechos abaixo, extraídos da obra de Clarice Lispector, assinale aquele que NÃO ilustra claramente essa afirmação:

a) “Perdi alguma coisa que me era essencial, que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável” (A Paixão Segundo G.H.).

b) “Eu estava agora tão maior que não me via mais. Tão grande como uma paisagem ao longe (...) como poderei dizer senão timidamente: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que diga. Então adoro.” (idem)

c) “Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem , mas não quero ficar com o que vivi.” (idem)

d) “Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? esgotaram-se os significados. Como surdos e mudos comunicamo-nos com as mãos.” (Um Sopro de Vida)

e) “Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa. Esses instantes que decorrem no ar que respiro: em fogos de artifício eles espocam mudos no espaço.” (Água Viva)

04. Leia os poemas de Cecília Meireles, retirados de Viagem e Vaga Música:

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida

A minha face?

Epigrama do espelho infiel

(a João de Castro Osório)

Entre o desenho do meu rosto

e o seu reflexo,

meu sonho agoniza, perplexo.

Ah! Pobres linhas do meu rosto

desmanchadas do lado oposto,

e sem nexo!

E a lágrima do seu desgosto

Sumida no espelho convexo.

Assinale a afirmativa INCORRETA:

a) Os dois poemas retratam a passagem do tempo.

b) O segundo poema pode ser lido como uma resposta à pergunta final do primeiro.

c) Os dois poemas apresentam o eu lírico conformado diante da mudança inexorável da vida.

d) No primeiro poema, o eu lírico se tornou menos emotivo com as mudanças sofridas através do tempo.

e) Os dois poemas contêm uma característica marcante da poética ceciliana: a reflexão sobre o humano.

05. São características dos poemas de Viagem e Vaga Música, de Cecília Meireles, EXCETO:

a) Presença de elementos provenientes do mundo da natureza, como: vento, ar, pássaro, flor...

b) Utilização de métrica e rima, apesar da predominância dos versos livres.

c) Conteúdo intensamente lírico e musicalidade delicada, expressos em poemas curtos.

d) Expressão da transitoriedade da vida e da efemeridade da existência.

e) Negação da transcendência da realidade enquanto tema existencial.

06. O livro de contos A Guerra Conjugal, de Dalton Trevisan, publicado em 1969, reatualiza alguns temas da ficção realista-naturalista do século XIX, e registra de forma crua a vida nos grandes centros urbanos. Nesse sentido, é correto afirmar que nessa obra

a) os casais protagonistas, da média e alta burguesia, como nos romances de Machado de Assis, vivem sempre conflitos ligados ao adultério.

b) os protagonistas dos contos estão quase sempre envolvidos em conflitos conjugais e familiares, que levam à violência e à perversão.

c) a maior parte dos contos retrata dramas de casais massacrados por um cotidiano miserável e por uma vida sem perspectivas.

d) quase todos os casais (denominados sempre de João e Maria) vivem dramas naturalistas, gerados por taras e perversões sexuais.

e) as personagens são de classe média; vivem na periferia de grandes cidades, mergulhadas numa grande miséria existencial e cultural.

07. O conto “A felicidade clandestina” narra um episódio de crueldade entre adolescentes. O motivo é o empréstimo de um livro de Monteiro Lobato.

Assinale a alternativa que contém a resposta correta para qualificar a situação narrada.

a) trata da ofegante espera do livro prometido.

b) Trata de um episódio sobre empréstimo de livros numa biblioteca.

c) trata da gratuidade da opressão de uma adolescente sobre a outra.

d) trata da solução mágica representada pela mãe de uma das personagens.

e) trata de personagens neurotizadas pela falta de leitura.

08. Nelson Rodrigues escreveu Vestido de Noiva e este texto acabou sendo considerado a grande

renovação da dramaturgia brasileira contemporânea. O que dá originalidade e peso ao texto deste autor e sustenta o interesse da peça é

a) o esquema narrativo simples, ou seja, o desastre, a tentativa de salvar a protagonista Alaíde, consequente morte.

b) o diagnóstico de uma realidade social terrível, protagonizada pela instituição familiar, cujas deformações são provocadas fundamentalmente por atitudes repressivas.

c) o uso de diferentes planos para narrar os acontecimentos que dão corpo ao texto, quais sejam o da memória, o da realidade e o da alucinação.

d) o encontro imaginário entre Alaíde e Madame Clessi, simbolizado nos conflitos sexuais e nas fantasias românticas de um amor entre uma prostituta e um adolescente.

e) a absoluta independência entre os vários planos da peça, justificada pela presença marcante da realidade que proporciona conclusão para a intriga.

09. O Auto, jogo linguístico de origem medieval, peça em que certas atitudes consideradas “pecaminosas” eram “questionadas” através de uma carga de humor, foi incorporado à produção literária brasileira (ou literatura feita no Brasil, como bem fez o padre José de Anchieta com a sua escrita evangelizadora e moralística), de forma que, mesmo distante no tempo e no espaço, este tipo de texto alcança um vasto público, como é o caso de O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Considerando os fragmentos abaixo, marque a alternativa correta:

[...]

PADRE

É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro.

Benzer motor á fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?

JOÃO GRILO

É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e

uma coisa é benzer o motor do major Antônio de Morais e outra

é benzer o cachorro do major Antônio de Morais.

[...]

BISPO

Então houve isso? Um cachorro enterrado em latim?

JOÃO GRILO

E então? É proibido?

BISPO

Se é proibido? Deve ser, porque é engraçado demais para não

ser. É proibido! É mais do que proibido! Código Canônico,

Artigo 1627, parágrafo único, letra k. Padre, o senhor vai ser

suspenso

[...]

JOÃO GRILO

É mesmo, é uma vergonha. Um cachorro safado daquele se

atreve a deixar três contos para o sacristão, quatro para o padre

e seis para o bispo, é demais.

[...]

BISPO

É por isso que eu vivo dizendo que os animais também são

criaturas de Deus. Que animal interessante! Que sentimento

nobre!

a) O Auto da Compadecida mantém relação direta com os autos medievais a partir somente do tipo formal de texto - auto - porque o conteúdo a ser desenvolvido neste tipo de literatura varia no tempo e no espaço de forma que um escritor contemporâneo não poderia recuperar nem atualizar esta forma textual.

b) “Os vícios dos homens e da sociedade” são apenas uma forma bem humorada de perceber o mundo, de entreter a razão, de valer o texto por si mesmo, independente de alusão ou denúncia a que faça referência porque o riso, e somente o riso, é o que está em primeiro plano neste tipo de texto.

c) O Auto da Compadecida não faz nenhuma alusão ao teatro de Gil Vicente porque dista deste no tempo e no espaço, logo os “vícios dos homens e da sociedade” não poderiam ser os mesmos. O texto de Ariano Suassuna é apenas uma paródia dos autos medievais.

d) O Auto da Compadecida não tem caráter moralístico porque a literatura de ficção nunca se propôs a discutir aspectos relacionados a contextos sócio-culturais, uma vez que se volta para o plano estético, desconsiderando qualquer alusão a práticas culturais, a papéis sociais e outros.

e) “Os vícios dos homens e da sociedade estão em todas as peças de Gil Vicente, representados por frades libertinos, magistrados corruptos, mulheres adúlteras [...] tipos que proliferam quando as sociedades esquecem os valores éticos e morais” (João Domingues Maia), característica observada na peça de Ariano Suassuna O Auto da Compadecida.

10. A questão seguinte baseia-se no poema concreto Epithalamium II, de Pedro Xisto (1901-1987).



Pressupostos teóricos da Poesia Concreta propõem a realização de um poema-objeto, isto é, uma obra que informa por meio de sua própria estrutura (estrutura = conteúdo); valoriza, entre outros elementos, o espaço em branco da página, como produtor de sentidos, e a utilização de formas visuais. Em várias edições de Epithalamium II (epitalâmio = canto ou poema nupcial), aparecem as seguintes indicações: he = ele; & = e; S = serpens; h = homo; e = Eva. Observe o poema, e, medianteas indicações do autor, aponte, dentre as alternativas, aquela que mais se aproxima da mensagem da obra.

a) As três letras, dispostas de modo a produzir uma imagem visual, denotam que o homem e a mulher, representados pelos pronomes pessoais, em inglês, foram coisificados e, após, separados um do outro, pelo pecado original (Adão e Eva).

b) A letra S, que desenha e escreve She, ao mesmo tempo que compõe as formas sinuosas de uma serpente (= pecado), parece que enlaça o he. Poderia evocar, por um lado, que os gêneros humanos se completam, um no outro, e, por outro, a supremacia da feminilidade sobre a masculinidade, já que he (= ele) é configurado no interior de She (= ela).

c) O &, que se desenha no poema, revela, por um lado, a desintegração mulher/homem (representados em inglês) e, por outro, a situação dos seres humanos no mundo capitalista. Isto se justifica pelo fato de & lembrar a forma com que se designa a razão social das empresas.

d) O significado do poema se esgota na simples contemplação do mesmo, como se fosse o logotipo de uma empresa. O She e o he comparecem como artifícios provocativos que disfarçam os significados de si próprios. Neste sentido, masculinidade e feminilidade se anulam.

e) Não há hierarquia entre She (= ela) e he (= ele), uma vez que esses pronomes pessoais estão desenhados em forma vertical no espaço branco da página, e não horizontalmente, como seria comum na poesia tradicional.

11. Observe, abaixo, os capítulos de romances e os comentários sobre eles, em seguida assinale a alternativa correta:

Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis, 1881)

Capítulo LV

O velho diálogo de Adão e Eva

BRÁS CUBAS

. . . . ?

VIRGÍLIA

. . . .

BRÁS CUBAS

. . . . . . . . . . . . . . . . .

VIRGÍLIA

. . . . . !

BRÁS CUBAS

. . . . . .

VIRGÍLIA

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

BRÁS CUBAS

. . . . . . . . .

VIRGÍLIA

. . . .

BRÁS CUBAS

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ! . . .

. . . ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . !

VIRGÍLIA

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ?

BRÁS CUBAS

. . . . . . !

VIRGÍLIA

. . . . . . !

Memórias sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade, 1924):

MONT-CENES

O alpinista

De alpenstock

Desceu

Nos Alpes

Zero (Ignácio de Loyola Brandão, 1975)

LIÇÃO DE GEOGRAFIA

Colômbia: 1.283.400 km², café, algodão e cana-de-açúcar, trigo e milho, United Fruit, petróleo, moeda oficial: o peso.

Adeus, adeus

Acaba de embarcar, de mudança para a University of Michigan, o cientista Carlos Correia, a maior autoridade do país em comunicações eletrônicas. Ganhando aqui um salário pouco acima do mínimo e sem condições de pesquisa, o sr. Carlos Correia preferiu se retirar por uns tempos até que a situação melhore.

Livre associação

Cine odeon, paratodos, robinhood com errol flynn, perfume canoe (dana), balas de hortelã, pegar nos peitos das meninas, tim holt, hopalong cassidy, bill Elliot, roy rogers, ken maynard, zorro, bang-bang, clélia. Pam, tapam, rataplam, crééééééééééééééé, puuuuuuuuu (peido) when béguin the beguine, bandera rossa, pim, pim, pim, pim, pim, clap, clap, clop

I. Os capítulos demonstram a influência nociva dos meios de comunicação de massa na literatura, fazendo-a perder sua essência literária em prol de uma incorporação da linguagem vulgar que falamos no dia a dia. Nestes capítulos, a “língua para poucos” da literatura perde valor, o que explica a baixa qualidade da literatura moderna no Brasil.

II. Os capítulos citados revelam que o romance brasileiro vem mantendo um diálogo fecundo e constante com os meios de comunicação do mundo capitalista moderno: o dinamismo da página de jornal em Machado de Assis, a montagem cinematográfica em Oswald de Andrade, o ritmo fragmentário da televisão em Ignácio de Loyola Brandão.

III. Os fragmentos romanescos citados são exemplos, na literatura brasileira, da tradição de ruptura com o realismo tradicional e o regionalismo, visando a absorção da cultura urbana e da visão de mundo do homem das cidades.

IV. Embora parte integrante de um romance, os capítulos acima citados são exemplos de uma instigante tendência da literatura brasileira moderna e contemporânea que faz interagir o romance com outras formas literárias, rompendo o limite entre a prosa e a poesia. Como outros textos da literatura brasileira moderna, Memórias póstumas de Brás Cubas, Memórias sentimentais de João Miramar e Zero criam capítulos de romance que mais se parecem com poemas em prosa do que com capítulos de romance.

a) Apenas os comentários II, III e IV estão corretos;

b) Apenas o comentário I está correto;

c) Apenas os comentários I e II estão corretos;

d) Todos os comentários estão corretos;

e) Nenhum comentário está correto.

 

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