quinta-feira, 28 de setembro de 2023

ENSINO MÉDIO - 3o ANO - LER E COMPREENDER - 2023

Disponível em: <www.google.com> Acesso em: 28 de set. de 2023.

ENSINO MÉDIO - 3o ANO - LER E COMPREENDER  -  GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO

TEXTO 1 

Morre menina de 3 anos baleada em ação da PRF no RJ

Heloísa dos Santos Silva foi atingida por disparo na nuca e no ombro quando estava no carro da família, corporação diz que lamenta caso e presta apoio

Folha de SP, 16/09/2023

Heloísa dos Santos Silva, 3, morreu às 9h22 deste sábado (16), após ter ficado nove dias internada em estado grave. A informação foi confirmada pela prefeitura de Duque de Caxias (RJ), que informou que a criança morreu após uma parada cardiorrespiratória irreversível.

A menina foi baleada na nuca e no ombro durante uma ação Policial Rodoviária Federal (PRF) no Arco Metropolitano, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

A criança estava na unidade de tratamento intensivo do Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, para onde foi levada depois de ter sido ferida. Quando foi atingida pelos disparos, ela estava com a família indo para casa, em Petrópolis, na região serrana...

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/09/morre-menina-de-3-anos-baleada-em-acao-da-prf-no-rj.shtml Acesso em: 16 de set. de 2023.

TEXTO 2

Achadas e perdidas

Uma bala perdida alcançou o ator Older Cazarré no sono, e o matou. No dia 12 do mês, uma menina de nove anos tinha sido ferida por bala perdida, quando brincava em sua casa, em Vila Isabel (sua casa estava sendo atingida pela terceira vez). E no dia seguinte, em Costa Barros, cinco crianças foram feridas pelas sobras de um tiroteio entre PMs e traficantes. O mês em nada se diferencia dos meses anteriores. E, como todos os meses no Rio de Janeiro, tempo de safra das balas perdidas.

Pergunto-me por que continuamos usando essa expressão “bala perdida”. Afinal, perdido é aquilo que sumiu, que não mais conseguimos encontrar. E as balas perdidas sabem muito bem onde vão parar. Só no prédio de Cazarré a polícia recolheu cinco delas, sendo que uma estava encravada na cabeceira da cama do subsíndico José Carlos Freire, a um palmo da sua cabeça.

Perdido é também aquilo que foi destruído, que é irrecuperável. Mas as balas perdidas são recuperabilíssimas; para reavê-las, basta afundar o canivete na parede  de uma casa pacífica ou na cabeceira de uma cama, e mergulhar o bisturi na carne. E certamente não foram destruídas. Destruídos são a pele, o osso, o órgão. Destruídos são a segurança e a vida.

Usa-se a palavra “perdida” também no sentido de distante, longínqua. Mas bem gostaríamos que as balas perdidas estivessem distantes. Antes aparentemente longínquas porque limitadas às áreas de bandidagem, estão se aproximando a cada dia, varando nossas vidraças e nossa serenidade. Bala perdida, hoje, é justamente aquela mais próxima do que todas as outras, a que nos atinge.

Perdida significa ainda prostituta, a que, por dinheiro se concede. E mais uma vez a palavra não encaixa nessas balas que, como pipas negras, cruzam nossos ares. Bala prostituta não é aquela que atinge quase ao acaso pessoas de bem, pessoas que nada têm a ver com as transações nefastas em cujo nome a bala é disparada. Bala prostituta é aquela que cumpre sua tarefa, que mata por dinheiro, e que só por dinheiro se “concede”.

E, ainda dentro do mesmo sentido, perdida quer dizer aquela que “saiu do bom caminho”. Mas como aceitar que o percurso de uma bala, visando à morte, seja considerado um bom caminho? Ainda que saia da arma de um traficante para o peito de outro traficante ou mesmo da arma de um policial para o peiro de um meliante, a bala traça sempre o pior de todos os caminhos. E repugna considerar bom um caminho da morte, apenas porque obedece à mira. Não existe bom caminho para as balas. Nem na guerra, nem na caça. E muito menos no cotidiano de uma cidade.

Assim também a consciência hesita em aceitar seu sentido como “errar”. Não apenas porque não podemos concordar com a existência da bala certa, mas porque, se é verdade que a bala perdida errou o alvo, é igualmente verdade que acertou sua função. Pois quem fabrica o projétil e o enche de pólvora não está lhe incutindo um alvo, mas apenas dando-lhe a capacidade de penetrar, rasgar e explodir, que são sua razão de ser. Bala errada, e portanto bala perdida, é para seu fabricante a que se perde na grama, sem condições de ferir ninguém, nem hoje nem nunca. É a bala que desperdiça seu poder mortífero.

Nem lhe cabe o sentido de “aflita” ou ansiosa”, que o dicionário registra. Uma bala nunca está ansiosa. Uma bala não hesita, não treme. Uma vez disparada, é objetiva e direta. Ansioso pode estar aquele que aperta o gatilho. E aflito fica quem recebe o tiro, ou quem vê o próprio filho atingido enquanto brinca no quintal de casa.

Há sentidos, porém que se lhe aplicam. É certo, sim, dizer que a bala é perdida, porquanto “pervertida”. A bala que fere ou mata aquele que apenas cruzou seu percurso, como se cruza uma linha de trem, é certamente mais pervertida do que a pervertida bala que mata a vítima visada.

E é “amoral” essa bala. É amoral porque mata pessoas inocentes – embora as culpadas também não devessem ser mortas. É amoral porque não obedece seque à questionável moral do submundo, porque escapa à moral da guerra que a dispara. Quem parte para um duelo sabe o que busca, quem parte para a guerra sabe ao que vai de encontro, mas quem dorme em sua cama não sabe o risco que corre.

Perdida quer dizer ainda “sem esperança ou salvação”. Uma cidade cruzada por balas perdidas é uma cidade sem esperança ou salvação. Mas as balas perdidas podem tornar-se uma espécie em extinção, quando a sociedade põe um basta nas balas achadas.

COLASSANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1996.

 

TEXTO 3

Grávida morta por bala perdida em comunidade do Rio já tinha escolhido nomes para bebê

Kathlen Romeu, de 24 anos, morreu ao ser atingida por uma bala perdida no Rio em tiroteio entre PMs e criminosos. Amiga diz que designer de interiores estava no ápice dos planos.

Por Matheus Rodrigues, G1 Rio

09/06/2021 00h01

 A designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos - que morreu ao ser atingida por uma bala perdida no Rio - já tinha escolhido o nome do bebê, que esperava há 14 semanas. No Instagram, ela já havia anunciado a gestação e a escolha pelos nomes: Maya ou Zyon.

“Neném, já me sinto pronta para te receber, te amar, cuidar!!! Deus nos abençoe”, disse a mãe na publicação.

Ela contou que estava com todos os sintomas de uma gestante. De acordo com a publicação, a jovem sentia azia, enjoos e uma “fome de leão”.

“Acordo às vezes assustada e pensando que não é real, mas aí vem uma fome de leão, uma dor de cabeça, um sono inacabável, uns enjoos incontroláveis e as azias que só Jesus me ajudando! Tem horas que penso que ficarei presa com os meus arrotos! É, tem sido desse jeito e nessa hora que eu lembro: Estou grávida”, diz o post na rede social.

A designer de interiores foi baleada durante uma operação da Polícia Militar enquanto passava na rua com a avó na comunidade do Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio. Ela foi levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas foi a óbito.

Disponível em: g1.globo.com.br Acesso em: 28/07/2021.

>> O verbo na esfera literária (qual o efeito do verbo no texto abaixo?)

TEXTO 4


ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!"

— A quem estais carregando,

irmãos das almas,

embrulhado nessa rede?

dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada,

irmão das almas,

que há muitas horas viaja

à sua morada.

— E sabeis quem era ele,

irmãos das almas,

sabeis como se chama

ou se chamava?

— Severino Lavrador,

irmão das almas,

Severino Lavrador,

mas já não lavra.

— E de onde que o estais trazendo,

irmãos das almas,

onde foi que começou

vossa jornada?

— Onde a Caatinga é mais seca,

irmão das almas,

onde uma terra que não dá

nem planta brava.

— E foi morrida essa morte,

irmãos das almas,

essa foi morte morrida

ou foi matada?

— Até que não foi morrida,

irmão das almas,

esta foi morte matada,

numa emboscada.

— E o que guardava a emboscada,

irmão das almas,

e com que foi que o mataram,

com faca ou bala?

— Este foi morto de bala,

irmão das almas,

mais garantido é de bala,

mais longe vara.

— E quem foi que o emboscou,

irmãos das almas,

quem contra ele soltou

essa ave-bala?

— Ali é difícil dizer,

irmão das almas,

sempre há uma bala voando

desocupada.

— E o que havia ele feito,

irmãos das almas,

e o que havia ele feito

contra a tal pássara?

— Ter uns hectares de terra,

irmão das almas,

de pedra e areia lavada

que cultivava.

— Mas que roças que ele tinha,

irmãos das almas,

que podia ele plantar

na pedra avara?

— Nos magros lábios de areia,

irmão das almas,

dos intervalos das pedras,

plantava palha.

— E era grande sua lavoura,

irmãos das almas,

lavoura de muitas covas,

tão cobiçada?

— Tinha somente dez quadras,

irmão das almas,

todas nos ombros da serra,

nenhuma várzea.

— Mas então por que o mataram,

irmãos das almas,

mas então por que o mataram

com espingarda?

— Queria mais espalhar-se

irmão das almas,

queria voar mais livre

essa ave-bala.

— E agora o que passará,

irmãos das almas,

o que é que acontecerá

contra a espingarda?

— Mais campo tem para soltar,

irmão das almas,

tem mais onde fazer voar

as filhas-bala.

— E onde o levais a enterrar,

irmãos das almas,

com a semente de chumbo

que tem guardada?

— Ao cemitério de Torres,

irmão das almas,

que hoje se diz Toritama,

de madrugada.

— E poderei ajudar,

irmãos das almas,

vou passar por Toritama,

é minha estrada.

— Bem que poderá ajudar,

irmão das almas,

é irmão das almas quem ouve

nossa chamada.

— E um de nós pode voltar,

irmãos das almas,

pode voltar daqui mesmo

para sua casa.

— Vou eu, que a viagem é longa,

irmãos das almas,

é muito longa a viagem

e a serra é alta.

— Mais sorte tem o defunto,

irmãos das almas,

pois já não fará na volta

a caminhada.

— Toritama não cai longe,

irmão das almas,

seremos no campo santo

de madrugada.

— Partamos enquanto é noite,

irmão das almas,

que é melhor lençol dos mortos

noite fechada.

MELO Neto, João Cabral de. Morte e Vida Severina e Outros Poemas em Voz Alta. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 73-79.

 

Sucesso!

 

 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ENSINO MÉDIO - 3o. ANO - LITERATURA - ATIVIDADE PARA 26/09/2023

 


3os ANOS - ATIVIDADE DE LITERATURA  PARA O DIA 26/09/2023

ASSISTA AO VÍDEO - (USE O LINK ABAIXO) E RESPONDA:

CURIOSIDADE - Clarice Lispector morou no Recife em um imóvel situado nas proximidades da Praça Maciel Pinheiro.

01. Que aspectos do livro “A hora da estrela” revelam a condição da mulher nordestina?

02. Que dado ou informação biográfica de Clarice Lispector chamou mais a sua atenção? Explique.

03. Por que podemos afirmar que a postura de Clarice é independente e crítica?

04. Clarice assumiu o ofício de escritora? Por quê?

05. O que é escrever para Clarice Lispector? Explique.

06. Qual a visão de Clarice Lispector sobre a recepção das crianças e dos adultos em relação à sua obra? Esclareça.

07. Que conto a própria autora afirma não compreender? Comente.

08. Além do conto “O ovo e a galinha”, que outro conto – citado pela autora – revela a violência urbana em nossos dias? Explique.

09. De toda a produção de Clarice Lispector, que livro foi eleito por Suzana Amaral para servir de base para a produção audiovisual (lançamento em 1985)? Qual a razão da escolha? 

10. LEIA O TEXTO (link abaixo) E FAÇA UM COMENTÁRIO CRÍTICO SOBRE A IDEIA CENTRAL DO CONTO MINEIRINHO  NA INTERFACE COM A MANCHETE. 

LINK DO CONTO - MINEIRINHO

POLÍCIA MATOU 18 PESSOAS POR DIA NO BRASIL; RJ E BA CONCENTRAM 43% DOS CASOS

Registros caem 1% em relação ao ano passado, aponta anuário; para especialista, câmeras ajudam a reduzir letalidade

isponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/07/mortes-causadas-por-policiais-caem-1-no-brasil-rj-e-ba-concentram-43-dos-casos.shtml >Acesso em: 26 de set. de 2023.

ATENÇÃO! Escreva as respostas no caderno para correção na aula presencial.

SUCESSO!

terça-feira, 12 de setembro de 2023

TÓPICOS DE REVISÃO - ENSINO MÉDIO - III UNIDADE - 12/09/2023

 

TÓPICOS DE REVISÃO - III UNIDADE - 2023👀

🙋ENSINO MÉDIO - LÍNGUA PORTUGUESA - 1o ANO

01.  Textos: Comparação entre textos: gênero discursivo e ideia central.

Estratégias argumentativas; hipônimo e hiperônimo

02.  Anúncio publicitário (itens multimodais); texto alfabético.

03.  Carta de Pero Vaz de Caminha e Viagens de Hans Staden

https://prioste2015.files.wordpress.com/2018/10/duas-viagens-ao-brasil-hans-staden.pdf

https://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf

Hans Staden – duas viagens ao Brasil--Primeiros registros sobre o Brasil

04.  Análise de informações de embalagens, acentuação, informações implícitas etc.


Quanto à acentuação gráfica, podemos destacar palavras como: contém (oxítona terminada em "-em"; enertico (todas as proparoxítonas são acentuadas); proteínas (temos, aqui, um caso de hiato); dio (paroxítona terminada em "ditongo crescente"); glúten (paroxítona terminada em "n") e outras.
Atenção! Leve em conta os itens multimodais, isto é: fontes, cores, "linguagem matemática", ícones, imagem fotográfica do produto etc.

05.  Era Colonial; discurso pragmático; nativo; interesses econômicos; contato entre estrangeiro, mão de obra indígena; extração de pau-brasil (Hans Staden, Terra Papagalli, Darcy Ribeiro).

       Link do livro aqui => Terra Papagalli

06.  Cândido Portinari (telas), Sebastião Salgado (fotos)

Colheita de Mel de Abelha Indígena, Portinari (1958).


Exemplo de fotografia feita por Sebastião Salgado.


07.  Literatura na Era Colonial: destruição da natureza; exploração do humano – comparação com manchetes de jornais (atuais) com temas equivalentes.

08.  Literatura na Era Colonial e citações: Eduardo Galeano – As veias abertas da América Latina.

09.  Telas barroquistas: Caravaggio, Peter Paul Rubens; feição atua do Barroco e poemas.

Crucifixión of Saint-Peter, Caravaggio (1600).
A Assunção da Virgem Maria, Peter Paul Rubens (1625).


10.  Homônimos e Parônimos (Ficha de palavras).



🙋ENSINO MÉDIO - LÍNGUA PORTUGUESA - 3o ANO

01.  Comparação: charge; Texto da esfera jornalística; crítica, complementariedade.

02.  Reflexões sobre as questões climáticas; passado e presente; contexto da produção de 1930; José Américo de Almeida; Rachel de Queiroz; Graciliano Ramos.

03.  Comparação entre telas de Cândido Portinari e a produção literária de 1930; Intertextualidade; trechos das obras; personagens; cenário desolador da seca. 

Criança morta (1944-45).

Retirantes (1944)

04.  Texto da esfera jornalística: compreensão e concordância verbal; verbo “haver” (em duas acepções: existir e fazer – na indicação de tempo transcorrido); variedade urbana de prestígio e coloquialismo; a palavra no campo artístico.

05.  Texto do domínio discursivo jornalístico; conectivos que promovem a coesão e coerência, compreensão; orações subordinadas (adverbiais).

06.  Texto do domínio discursivo literário: poema; concordância verbal, verbo: “haver”, coloquialismo, variedade urbana de prestígio, a linguagem no domínio literário.

07.  Segunda Geração do Modernismo: Carlos Drummond de Andrade (fases da produção poética de Drummond: Sentimento do mundo, A Rosa do Povo, Alguma poesia e Brejo das almas), Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Mário Quintana; Comparação de poemas com temáticas relevantes – tanto as vivenciadas no passado quanto as vividas no presente.

      SELEÇÃO DE POEMAS:

No meio do Caminho

Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

 

Nunca esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

 

Sentimento do mundo

Carlos Drummond de Andrade

Tenho apenas duas mãos

e o sentimento do mundo,

mas estou cheio de escravos

minhas lembranças escorrem

e o corpo transige

na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu

estará morto e saqueado,

eu mesmo estarei morto,

morto meu desejo, morto

o pântano sem acordes

Os camaradas não disseram

que havia uma guerra

e era necessário

trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso,

anterior a fronteiras,

humildemente vos peço

que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,

eu ficarei sozinho

desfiando a recordação

do sineiro, da viúva e do microscopista

que habitavam a barraca

e não foram encontrados

ao amanhecer

mais noite que a noite.


Mãos Dadas

Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins,

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente 


08.  Poemas de Cecília Meireles, fugacidade da vida, o sentimentalismo (similar ao Romantismo, embora esteja na segunda fase do Modernismo); linguagem, eu poemático, comparação entre os poemas de Cecília.


Motivo

Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa,

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

 

Irmãos das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

– não sei, não sei. Não sei se fico

ou se passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mundo:

– mais nada.

Retrato

Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

 

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

 

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

– Em que espelho ficou perdida

a minha face?

09.  Jorge Amado; Capitães da areia; concordância nominal

10.  Invenção do Nordeste e Geração de 1930.