ENSINO MÉDIO - 3o ANO - LER E COMPREENDER - GRAMÁTICA APLICADA AO TEXTO
TEXTO 1
Morre menina de 3
anos baleada em ação da PRF no RJ
Heloísa dos Santos
Silva foi atingida por disparo na nuca e no ombro quando estava no carro da
família, corporação diz que lamenta caso e presta apoio
Folha
de SP, 16/09/2023
Heloísa
dos Santos Silva, 3, morreu às 9h22 deste sábado (16), após ter ficado nove
dias internada em estado grave. A informação foi confirmada pela prefeitura de
Duque de Caxias (RJ), que informou que a criança morreu após uma parada
cardiorrespiratória irreversível.
A
menina foi baleada na nuca e no ombro durante uma ação Policial Rodoviária
Federal (PRF) no Arco Metropolitano, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.
A
criança estava na unidade de tratamento intensivo do Hospital Municipal Adão
Pereira Nunes, em Duque de Caxias, para onde foi levada depois de ter sido
ferida. Quando foi atingida pelos disparos, ela estava com a família indo para
casa, em Petrópolis, na região serrana...
Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/09/morre-menina-de-3-anos-baleada-em-acao-da-prf-no-rj.shtml Acesso em: 16 de set. de 2023.
TEXTO 2
Achadas
e perdidas
Uma
bala perdida alcançou o ator Older Cazarré no sono, e o matou. No dia 12 do
mês, uma menina de nove anos tinha sido ferida por bala perdida, quando
brincava em sua casa, em Vila Isabel (sua casa estava sendo atingida pela
terceira vez). E no dia seguinte, em Costa Barros, cinco crianças foram feridas
pelas sobras de um tiroteio entre PMs e traficantes. O mês em nada se
diferencia dos meses anteriores. E, como todos os meses no Rio de Janeiro,
tempo de safra das balas perdidas.
Pergunto-me
por que continuamos usando essa expressão “bala perdida”. Afinal, perdido é aquilo
que sumiu, que não mais conseguimos encontrar. E as balas perdidas sabem muito
bem onde vão parar. Só no prédio de Cazarré a polícia recolheu cinco delas,
sendo que uma estava encravada na cabeceira da cama do subsíndico José Carlos
Freire, a um palmo da sua cabeça.
Perdido
é também aquilo que foi destruído, que é irrecuperável. Mas as balas perdidas
são recuperabilíssimas; para reavê-las, basta afundar o canivete na parede de uma casa pacífica ou na cabeceira de uma
cama, e mergulhar o bisturi na carne. E certamente não foram destruídas.
Destruídos são a pele, o osso, o órgão. Destruídos são a segurança e a vida.
Usa-se
a palavra “perdida” também no sentido de distante, longínqua. Mas bem
gostaríamos que as balas perdidas estivessem distantes. Antes aparentemente
longínquas porque limitadas às áreas de bandidagem, estão se aproximando a cada
dia, varando nossas vidraças e nossa serenidade. Bala perdida, hoje, é
justamente aquela mais próxima do que todas as outras, a que nos atinge.
Perdida
significa ainda prostituta, a que, por dinheiro se concede. E mais uma vez a
palavra não encaixa nessas balas que, como pipas negras, cruzam nossos ares.
Bala prostituta não é aquela que atinge quase ao acaso pessoas de bem, pessoas
que nada têm a ver com as transações nefastas em cujo nome a bala é disparada.
Bala prostituta é aquela que cumpre sua tarefa, que mata por dinheiro, e que só
por dinheiro se “concede”.
E,
ainda dentro do mesmo sentido, perdida quer dizer aquela que “saiu do bom
caminho”. Mas como aceitar que o percurso de uma bala, visando à morte, seja
considerado um bom caminho? Ainda que saia da arma de um traficante para o
peito de outro traficante ou mesmo da arma de um policial para o peiro de um
meliante, a bala traça sempre o pior de todos os caminhos. E repugna considerar
bom um caminho da morte, apenas porque obedece à mira. Não existe bom caminho
para as balas. Nem na guerra, nem na caça. E muito menos no cotidiano de uma
cidade.
Assim
também a consciência hesita em aceitar seu sentido como “errar”. Não apenas
porque não podemos concordar com a existência da bala certa, mas porque, se é
verdade que a bala perdida errou o alvo, é igualmente verdade que acertou sua
função. Pois quem fabrica o projétil e o enche de pólvora não está lhe
incutindo um alvo, mas apenas dando-lhe a capacidade de penetrar, rasgar e
explodir, que são sua razão de ser. Bala errada, e portanto bala perdida, é
para seu fabricante a que se perde na grama, sem condições de ferir ninguém,
nem hoje nem nunca. É a bala que desperdiça seu poder mortífero.
Nem
lhe cabe o sentido de “aflita” ou ansiosa”, que o dicionário registra. Uma bala
nunca está ansiosa. Uma bala não hesita, não treme. Uma vez disparada, é
objetiva e direta. Ansioso pode estar aquele que aperta o gatilho. E aflito
fica quem recebe o tiro, ou quem vê o próprio filho atingido enquanto brinca no
quintal de casa.
Há
sentidos, porém que se lhe aplicam. É certo, sim, dizer que a bala é perdida,
porquanto “pervertida”. A bala que fere ou mata aquele que apenas cruzou seu
percurso, como se cruza uma linha de trem, é certamente mais pervertida do que
a pervertida bala que mata a vítima visada.
E
é “amoral” essa bala. É amoral porque mata pessoas inocentes – embora as
culpadas também não devessem ser mortas. É amoral porque não obedece seque à
questionável moral do submundo, porque escapa à moral da guerra que a dispara.
Quem parte para um duelo sabe o que busca, quem parte para a guerra sabe ao que
vai de encontro, mas quem dorme em sua cama não sabe o risco que corre.
Perdida
quer dizer ainda “sem esperança ou salvação”. Uma cidade cruzada por balas
perdidas é uma cidade sem esperança ou salvação. Mas as balas perdidas podem
tornar-se uma espécie em extinção, quando a sociedade põe um basta nas balas
achadas.
COLASSANTI,
Marina. Eu sei, mas não devia. Rio
de Janeiro: Editora Rocco, 1996.
TEXTO 3
Grávida morta por bala perdida em comunidade do Rio já tinha escolhido
nomes para bebê
Kathlen Romeu, de 24 anos, morreu ao ser
atingida por uma bala perdida no Rio em tiroteio entre PMs e criminosos. Amiga
diz que designer de interiores estava no ápice dos planos.
Por Matheus
Rodrigues, G1 Rio
09/06/2021 00h01
“Neném, já me sinto pronta para te receber, te
amar, cuidar!!! Deus nos abençoe”, disse a mãe na publicação.
Ela contou que estava com todos os sintomas de uma gestante. De acordo com a
publicação, a jovem sentia azia, enjoos e uma “fome de leão”.
“Acordo às vezes assustada e pensando que não é real, mas aí vem uma
fome de leão, uma dor de cabeça, um sono inacabável, uns enjoos incontroláveis
e as azias que só Jesus me ajudando! Tem horas que penso que ficarei presa com
os meus arrotos! É, tem sido desse jeito e nessa hora que eu lembro: Estou
grávida”, diz o post na rede social.
A designer de interiores foi baleada durante uma
operação da Polícia Militar enquanto
passava na rua com a avó na comunidade do Lins de Vasconcelos, Zona Norte do
Rio. Ela foi levada para o Hospital Municipal Salgado
Filho, no Méier, mas foi a óbito.
Disponível em: g1.globo.com.br Acesso
em: 28/07/2021.
>> O verbo na esfera literária (qual
o efeito do verbo no texto abaixo?)
TEXTO 4
ENCONTRA DOIS HOMENS
CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: "Ó IRMÃOS DAS ALMAS!
IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!"
— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.
— E sabeis quem era ele,
irmãos das almas,
sabeis como se chama
ou se chamava?
— Severino Lavrador,
irmão das almas,
Severino Lavrador,
mas já não lavra.
— E de onde que o estais trazendo,
irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?
— Onde a Caatinga é mais seca,
irmão das almas,
onde uma terra que não dá
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,
irmãos das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,
irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada,
irmão das almas,
e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mais garantido é de bala,
mais longe vara.
— E quem foi que o emboscou,
irmãos das almas,
quem contra ele soltou
essa ave-bala?
— Ali é difícil dizer,
irmão das almas,
sempre há uma bala voando
desocupada.
— E o que havia ele feito,
irmãos das almas,
e o que havia ele feito
contra a tal pássara?
— Ter uns hectares de terra,
irmão das almas,
de pedra e areia lavada
que cultivava.
— Mas que roças que ele tinha,
irmãos das almas,
que podia ele plantar
na pedra avara?
— Nos magros lábios de areia,
irmão das almas,
dos intervalos das pedras,
plantava palha.
— E era grande sua lavoura,
irmãos das almas,
lavoura de muitas covas,
tão cobiçada?
— Tinha somente dez quadras,
irmão das almas,
todas nos ombros da serra,
nenhuma várzea.
— Mas então por que o mataram,
irmãos das almas,
mas então por que o mataram
com espingarda?
— Queria mais espalhar-se
irmão das almas,
queria voar mais livre
essa ave-bala.
— E agora o que passará,
irmãos das almas,
o que é que acontecerá
contra a espingarda?
— Mais campo tem para soltar,
irmão das almas,
tem mais onde fazer voar
as filhas-bala.
— E onde o levais a enterrar,
irmãos das almas,
com a semente de chumbo
que tem guardada?
— Ao cemitério de Torres,
irmão das almas,
que hoje se diz Toritama,
de madrugada.
— E poderei ajudar,
irmãos das almas,
vou passar por Toritama,
é minha estrada.
— Bem que poderá ajudar,
irmão das almas,
é irmão das almas quem ouve
nossa chamada.
— E um de nós pode voltar,
irmãos das almas,
pode voltar daqui mesmo
para sua casa.
— Vou eu, que a viagem é longa,
irmãos das almas,
é muito longa a viagem
e a serra é alta.
— Mais sorte tem o defunto,
irmãos das almas,
pois já não fará na volta
a caminhada.
— Toritama não cai longe,
irmão das almas,
seremos no campo santo
de madrugada.
— Partamos enquanto é noite,
irmão das almas,
que é melhor lençol dos mortos
noite fechada.
MELO Neto, João Cabral de. Morte e Vida
Severina e Outros Poemas em Voz Alta. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.
p. 73-79.
Sucesso!
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