01. (Unifesp-2003) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913).
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada...
NOSSA RESPOSTA - LETRA A
COMENTÁRIO 👀
Observem que o fragmento do livro evidencia a presença de um narrador onisciente (isto é, aquele que tem saber absoluto dos fatos narrados), porque demonstra conhecer o pesamento das personagens, como em: "Ninguém sabia dizê-lo" ou "[...] vivia a sonhar em segredo...". No caso da onipresença (ou seja, está presente em todos os lugares), o mesmo narrador descreve com detalhes espaços, pessoas e objetos, como pode ser registrado em: "O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados" e "O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa".
02. (ENEM-2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.)
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...
b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...
e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
NOSSA RESPOSTA - LETRA A
COMENTÁRIO 👀
Da maneira como mostrei ao longo das videoconferências, uma das características do Romantismo é supervalorizar a subjetividade (quer dizer, dar valor excessivo ao sentimento). Porém, para o escritor do Realismo, a objetividade (ou seja, a verdade material) é o elemento principal. Por assim dizer, quando Machado de Assis usa a voz do narrador-personagem para criticar o Romantismo, ele reitera o seu compromisso com a veracidade, tal qual vemos em: "[...] o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas".
03. (PUC - PR-2007) Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.
b) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes.
c) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.
d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu Madame Bovary.
e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.
NOSSA RESPOSTA - LETRA A
COMENTÁRIO 👀
Como salientei nas minhas aulas, o Realismo e o Naturalismo aparecem em épocas muito próximas e apresentam características similares e distintas. Assim, os dois movimentos revelam objetividade, arte engajada, personagens construídas de acordo com a realidade etc. No entanto, existem algumas diferenças, como:
REALISMO NATURALISMO
1. Mostra a realidade exterior 1. "Prioriza" a realidade exterior
2. Ataca a classe burguesa 2. Apresenta personagens como: proletários, vendedores, ambulantes etc.
Diante dessa comparação, embora existam característica distintas, esses dois estilos de época não se opõem. Portanto, Realismo não é reação ao Naturalismo. Na verdade, ambos (Realismo e Naturalismo) se opõem ao Romantismo.
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