TEXTO EM CONSTRUÇÃO E REVISÃO
👉ENSINO MÉDIO - 3os. ANOS
VIDEOCONFERÊNCIA 009 - AULAS 1 e 2 - 26 e 27/8/2020.
A SEGUNDA GERAÇÃO DE 30 E O NEORREALISMO
‘Club social’
recheado de críticas
"Das War ein Vorspiel nur; dort wo man Bücher verbrennt, verbrennt man auch am Ende Menschen" (Heinrich Heine)
"Isso foi apenas um prelúdio: ali onde se queimam livros ao final queimam-se também pessoas"
O período que
compreende o intervalo de 1928 até 1945 revela importante tensão no mundo. Só
para citar alguns fatos, destaco: (i) crise de 1929; (ii) crise cafeeira;
(iii) Revolução de 30; (iv) Intentona Comunista (1935); (v) Estado Novo
(1937-45); (vi) Ascensão do nazismo e do fascismo; (vii) Combate ao socialismo;
(viii) Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Nesse panorama
histórico, quero destacar a produção literária, sobretudo, aquela produzida
pelo Grupo nordestino de 30. Nesse contexto, trago para o centro do debate a
tese “Social Life in Brazil in the Middle
of the 19th Century” que, mais tarde, foi ampliada para compor a obra Casa
Grande e Senzala.
Para estabelecer uma
ponte entre essa fase de 30 e a presente data, apresentei a canção “Alagados” (de
Herbert Vianna) que, embora tenha sido lançada em 1986, ecoa as ‘toadas’ do
passado em nossos dias. Para ser mais claro, destaco alguns trechos da
composição para trazer, mais uma vez, uma aula diferente daquela convencional.
Nesse sentido, já anuncio o tema transversal, quer dizer, o problema das desigualdades sociais, em especial, no Brasil. Em
princípio, o compositor traz da natureza do sonho para o plano da realidade, os
versos: “Traz do sonho pro mundo/ que já
não o queria”. Por quê? Pelo choque de realidade, que é factível ao
percebermos nas notícias hodiernas, as mesmas manchetes... Como se não
bastasse, a realidade do último censo (2010) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) é de que mais de 11,4 milhões de pessoas vivem
em moradias precárias (confira em: Déficit habitacional torna isolamento
vertical inviável no Brasil; José Tadeu Arantes /AGÊNCIA FAPE 8P - REVISTA
GALILEU, 2/4/2020) . São “palafitas, trapiches...” que abrigam “farrapados da mesma agonia”. Com tom
irônico, o eu lírico declara “E a cidade
que tem braços abertos/ Num cartão-postal”, ou seja, Rio de Janeiro está de
braços abertos para receber os turistas, porém não enxerga o lado da realidade
de seu povo. Aqui, portanto, mostro dois implícitos (o implícito aparece nos descritores do SAEPE e do SAEBE. Além disso, faz parte dos programas do SSA-UPE e do ENEM) “braços abertos” que se refere à imagem do Cristo Redentor, portanto
Rio de Janeiro e “cartão-postal” que
representa a atração turística proporcionada pelo monumento e parte da cidade.
📌 Pausa para um exemplo de IMPLÍCITO com uma questão do SSA 3-UPE. Assim, leia a questão e, na sequência, volte ao texto.
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🙋 EM DIA COM O SSA 3 - UPE
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Sobre IMPLÍCITO, vejam uma questão do SSA 3 -UPE de 2019.
Nossa resposta é letra C.................................................
📌 Você observou o implícito? Agora, continue a leitura...
No verso seguinte, os “punhos fechados”
que representa a “avareza da cidade” (ou a negligência de seus representantes
políticos), denota a vida real. A cidade é personificada com a “face dura do mal”, porque seus
governantes negam os direitos essenciais aos cidadãos (não é invenção! São
direitos! Portanto, confira o Artigo 6º. da Constituição Federal: são direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta constituição). Não só na ‘Favela da Maré’, no
município do Rio de Janeiro, mas em ‘Alagados’, Salvador e também em toda a
América Latina, quando o compositor cita ‘Trenchtown’,
na Jamaica (logicamente, os responsáveis são outros). Para ser mais enfático,
toda a América Latina enfrenta essa realidade. Ao longo da história, a cultura
de uma ‘falsa esperança’ ou da ‘crença em propostas inexequíveis’ de políticos,
ecoa o Sebastianismo (lembrem-se da obra “Os Sertões” (1902), de Euclides da
Cunha – quando Antônio Conselheiro disse: “o sertão vai virar mar”). Em “a
esperança não vem do mar”, tampouco virá das antenas de TV (hoje, celulares
e suportes similares), o eu poemático chama a atenção para a ‘falibilidade das
promessas’. Essa arte de viver da crença em discursos demagógicos tem se
perpetuado na cultura brasileira. Diante desses ‘ecos’ da música, poder-se-ia
perguntar: o que isso tem que ver com a aula de literatura de hoje, professor?
Vamos começar pelo êxodo rural! Uma das consequências do êxodo é, sem sombras
de dúvida os aglomerados urbanos... Mas ainda não ficou claro, professor! De
que trata o livro “A Bagaceira”, de José Américo de Almeida? Qual a ideia
central do livro O Quinze, de Rachel de Queiroz? O que traduz o livro “Vidas
secas”, de Graciliano Ramos? Preciso dizer? Claro que tenho que dizer! Esses
livros expõem para o mundo a verdadeira face do país. Não só isso, mas os
escritores dessa geração estiveram engajados nas questões sociais.
Para certo grupo de pesquisadores, esse foi o período da invenção do Nordeste. Para ser mais claro, esses estudiosos defendem a ideia de que a imagem do Nordeste foi criada pelos artistas e escritores da geração de 1930. Desculpa lá, mas vou descordar. ‘Invenção do
Nordeste’? Antes de responder, olhem a série Retirantes, do artista paulista
Cândido Portinari. Essa produção revela a verdade e faz, ao mesmo tempo, uma denúncia. Se o internauta não estiver satisfeito, aconselho que busque as imagens das fotografias captadas pela lente de Maureen Bisilliat. Diante disso, a tese da invenção é uma invenção em si. O que dizer, então, da realidade do Brasil? O que entender do cenário real da América Latina? Só se quiserem inventar, (re)inventar o Brasil ou (re)inventar a América Latina. Suponho que me entendem aqueles da tese da "invenção do Nordeste". Fique claro, por conseguinte, que uma coisa é fato e outra é opinião (a diferença entre fato e opinião aparece nos descritores do SAEPE e do SAEB) .
📌 Pausa para um exemplo com o descritor 14 (distinguir um fato da opinião relativa a esse fato) do SAEB. Assim, leia a questão e, na sequência, volte ao texto.
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🙋 EM DIA COM O SAEB
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📌 Você entendeu a distinção entre fato e opinião?
[...]
Na aula passada, fiz
uma abordagem geral sobre a ideia central de cada título que exploraremos ao
longo do processo de ensino aprendizagem.
Para os seminários,
iniciamos com o livro Capitães da Areia, de Jorge Amado. Ao tratarmos da
biografia do autor, destacamos que “em novembro de 1937, uma fogueira insólita
ardia na cidade baixa de Salvador, a poucos passos do Elevador Lacerda...” (BBC
News, 26 de novembro de 2017). Esse fato, que fora motivado pelo teor crítico
do livro, faz-nos lembrar da frase de Christian Johann Heinrich Heine
(1797-1856) que passo a citar: “Das war ein Vorspiel nur; dort wo man Bücher
verbrennt, verbrennt man auch am Ende Menschen." Agora, faço a tradução: "Isso foi apenas um prelúdio: ali onde se queimam livros ao final queimam-se também pessoas".
[...]
Nesse contexto, podemos afirmar que a literatura de 1930 revela um Neorrealismo.
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🙋A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida (Areia, Paraíba, 1887-1980) 👀
Alguns pontos relevantes para discussão: a família de Soledade abandona a fazenda do Bondó; Valentim Pedreira (pai) - assassinou o feitor Manuel Broca. Este último fora sedutor e amante de Soledade (deparamo-nos, aqui, com uma "tragédia"); Pirunga; Lúcio (filho de Dagoberto) - a mãe morre durante o parto do menino; Dagoberto Marçal, que é dono do engenho Marzagão, violenta Soledade - observe que Gilberto Freyre menciona que essa prática era frequente nas casas-grandes; Carlota e Milonga.
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🙋O Quinze (1930), de Rachel de Queiroz (Fortaleza, 1919 - Rio de Janeiro, 2003) 👀
Ambientado no sertão nordestino (Quixadá, sertão do Ceará) o livro trata da temática da seca que assolou a região em 1915. Destaque para Chico Bento e sua família; Vicente e Conceição.
"Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.
- Mãezinha, cadê a janta?
- Cala a boca, menino! Já vem!
- Vem lá o quê!...
Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos... nem um triste vintém azinhavrado..."
QUEIROZ, Rachel. O Quinze. São Paulo: Siciliano, 1993.
Faz parte da bibliografia da autora: João Miguel (1932); Caminho de pedra (1937); As três Marias (1939); Dôra, Doralina (1975); Memorial de Maria Moura (1922).
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🙋Vidas secas (1938), Graciliano Ramos (Quebrângulo, Alagoas, 1892 - Rio de Janeiro, 1953) 👀
Cito Alfredo Bosi: "Graciliano via em cada personagem a face angulosa da opressão e da dor" (BOSI, 1977, p. 451)
Personagens: Fabiano; Sinhá Vitória; o Menino mais velho; o Menino mais novo; Baleia (uma cadela); Soldado Amarelo; Patrão.
"Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comina. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disso..."
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Record, 1995.
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🙋Menino de Engenho (1932), José Lins do Rego (Pilar, Paraíba, 1901 - Rio de Janeiro, 1957) 👀
Trata-se de uma obra memorialista que dá início ao "ciclo da cana de açúcar". O romance protagonizado pela figura do garoto Carlos de Melo (Carlinhos). Aqui, enfatizo a memória ("crônica de saudades") e a observação no romance. Nesse sentido, fica patente o traço autobiográfico. Para melhor explicar esses pontos, mostrei as seguintes distinções: (i) autor x narrador; (ii) autor x protagonista e outros aspectos da narrativa.
Outras obras: Pureza (1937); Pedra Bonita (1938); Riacho Doce (1939); Água-mãe (1941); Fogo Morto (1943); Eurídice (1947); Cangaceiros (1953)...
"O engenho e a casa de farinha repletos de flagelados. Era a população das margens do rio, arrasada, morta de fome, se não fossem o bacalhau e a farinha seca da fazenda. Conversaram sobre os incidentes da enchente, achando graça até nas peripécias de salvamento..."
REGO, José Lins do. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.
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🙋Capitães da Areia (1937), Jorge Amado (Itabuna, 1912 - Salvador, 2001) 👀
Na ocasião, comentei sobre: Pedro Bala (líder do grupo, quinze anos); Sem-Pernas; João Grande; José (cognominado Professor); Pirulito; João de Adão (estivador); Boa-Vida e outros.
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🙋 EM DIA COM O SSA 3 - UPE
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Observem a relação entre imagem fotográfica de romancistas na interface com outras imagens que podem ser relacionadas.
Nossa resposta é letra C, ou seja, VVFVFComentário👀
A primeira proposição é verdadeira, porque a foto 5 traz a imagem de Clarice Lispector. Como se sabe, neste ano de 2020, muitos comemoram o seu centenário de nascimento. Porém, vejo que há algum equívoco, porque a escritora nasceu em 1926 (BOSI, p. 475). Apesar de ter nascido na Ucrânia, Lispector chegou ao Brasil, trazida pela família ainda criança. Nesse sentido, como declarou a própria escritora que não chegou, sequer, a pisar em solo ucraniano. Vale lembrar que em sua biografia, o fato da escritora ter vivido no Recife, por certo período, é extremamente relevante. Do ponto de vista bibliográfico, Clarice é autora de: A Hora da Estrela (imagem 5 - cena do filme), A Paixão Segundo GH, Perto do Coração Selvagem, Laços de Família, A Descoberta do Mundo e outros. Na sequência, a imagem 6 faz referência a João Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão: Veredas, Sagarana e outros. Trata-se de um autor pertencente a terceira geração do Modernismo lado a lado com Clarice Lispector.
A segunda proposição é verdadeira, pois a foto 1 revela a figura de Rachel de Queiroz. Como temos visto nas aulas, Raquel se destacou na segunda geração do Modernismo brasileiro (Geração de 30) com o seu romance O Quinze (1930), conforme a imagem 2, que trata da seca de 1915. Na sequência, destacamos José Lins do Rego, que também fiz parte da Geração de 30, e publicou uma série de livros voltados para o "ciclo da cana-de-açúcar", como Menino de Engenho (Imagem 1) e o "ciclo do cangaço", como Os Cangaceiros.
A terceira proposição é falsa, porque a correspondência adequada seria: Foto 3 de Graciliano Ramos com a imagem 4, que representa uma cena do filme Vidas Secas e, por outro lado, foto 4 com imagem 3, que representa uma imagem do filme Gabriela (baseado no romance Gabriela, Cravo e Canela).
A quarta proposição está verdadeira, pois revela correspondência entre a imagem 4 da cena do filme baseada no romance Vidas Secas, de autoria de Graciliano Ramos (foto 3).
A última proposição está falsa por um detalhe que não se refere às imagens da coluna da direita. Na verdade, o estudante deve atentar para a descrição: "45 contos de narradores oniscientes" trata-se, portanto do livro Sagarana. Outra observação a ser feita está relacionada ao espaço. Em Sagarana, o espaço é interiorano, portanto, está descartada a ideia de "tendo como espaço as grandes cidades". Vale ainda frisar que o livro Primeiras Histórias é composto por 21 contos, cujo espaço retratado é claramente rural.
ATENÇÃO! Vamos responder uma questão em envolve as artes plásticas.
Nossa resposta é letra E.
Comentário👀
Observe que a questão é essencialmente voltada para o reconhecimento de composições do campo das artes plástica. Da forma como vemos, não há qualquer referência direta à literatura no sentido de sua produção alfabética. Por isso mesmo, de quando em quando, exponho telas, murais etc.
RESUMO:
Anita Malfatti - A Boba (1915-1916)
Tarsila do Amaral - Abaporu (1928)
Di Cavalcanti - Samba (1925)
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🙋 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
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01.
(Unifesp-2002)
Uma linha de coerência se esboça através dos zigue-zagues de sua vida. Ora
espiritualista, ora marxista, criando um dia o Pau-Brasil, e logo buscando
universalizá-lo em antropofagia, primitivo e civilizado a um tempo, como
observou Manuel Bandeira, solapando o edifício burguês sem renunciar à
habitação em seus andares mais altos, Oswald manteve sempre intata sua
personalidade, de sorte a provocar, ainda em seus últimos dias, a irritação ou
a mágoa que inspirava quando fauve modernista de 1922. (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa.)
Carlos Drummond
de Andrade identifica, no texto transcrito, uma linha de coerência na vida de
Oswald de Andrade. Esta coerência se verifica, segundo o texto,
a)
nos aspectos ideológicos e político.
b)
na criação poética.
c)
na obra de ficção narrativa.
d)
na defesa dos valores burgueses.
e)
na personalidade forte e agressiva.
02. (Mack-2007)
Considere as seguintes afirmações acerca da poesia modernista brasileira.
I.
Valorizou a concepção idealizada da figura feminina.
II.
No tratamento de alguns temas, manteve um diálogo irreverente com a tradição
literária.
III.
Recuperou a imagem da “mulher fatal”, enaltecida pelos clássicos, mas em versos
livres e brancos.
IV.
Adotou uma linguagem prosaica, cujo ritmo fluente revela a marca da oralidade. Assinale:
a)
se apenas I estiver correta.
b)
se apenas IV estiver correta.
c)
se apenas I e III estiverem corretas.
d)
se apenas I e IV estiverem corretas.
e)
se apenas II e IV estiverem corretas.
03.
(PUC - PR-2007) Assinale a alternativa correta para as características do
Modernismo de 1922, também chamado de “fase heroica”.
a)
espírito polêmico e destruidor, valorização poética do cotidiano, nacionalismo,
busca da originalidade a qualquer preço.
b)
Temática ampla com preocupação filosófica, predomínio do romance regionalista,
valorização do cotidiano, nacionalismo.
c)
Espírito polêmico, busca da originalidade, predomínio do romance psicológico,
valorização da cidade e das máquinas.
d)
Visão futurista, espírito polêmico e destruidor, predomínio da prosa poética,
valorização da cidade e das máquinas.
e)
Valorização poética do cotidiano, linguagem repleta de neologismos,
nacionalismo e busca da poesia na natureza.
04.
(Fuvest-2002) Considere as seguintes
comparações entre Vidas secas e A hora da estrela:
I.
Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a
expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que
retratam. II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de
expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da
opressão social.
III.
A personagem sinhá Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não
possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já
Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de
consumo. Está correto apenas o que se
afirma em:
a) I. b) II.
c) III. d) I e II.
e) II e III.
Vejam
a questão 01, em outra perspectiva.
05.
(Unifesp-2002) Uma linha de coerência se esboça
através dos zigue-zagues de sua vida. Ora espiritualista, ora marxista, criando
um dia o Pau-Brasil, e logo buscando universalizá-lo em antropofagia, primitivo
e civilizado a um tempo, como observou Manuel Bandeira, solapando o edifício
burguês sem renunciar à habitação em seus andares mais altos, Oswald manteve
sempre intata sua personalidade, de sorte a provocar, ainda em seus últimos
dias, a irritação ou a mágoa que inspirava quando fauve modernista de 1922. (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e
prosa.)
Na
crônica de Carlos Drummond de Andrade, há uma referência ao movimento da
Antropofagia, do qual participaram vários escritores modernistas. A alternativa
que apresenta apenas poetas, artistas e intelectuais que participaram desse
movimento antropófago, quaisquer que sejam suas fases, é:
a)
Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Cassiano Ricardo e Jorge de Lima.
b)
Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Raul Bopp e Antônio de Alcântara Machado.
c)
Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Cecília Meireles e Murilo Mendes.
d)
Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Jorge de
Lima.
e)
Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Alceu Amoroso Lima e Oswald de Andrade.
06.
(UNIFESP-2005) Observe a figura.
A tela de Portinari - A criança morta -
tematiza aspecto marcante da vida no sertão nordestino, frequentemente
castigado pelas secas, pela miséria e pela fome. Os escritores que se dedicaram
também a esse tema foram:
a)
Graciliano Ramos e José de Alencar.
b)
Hilda Hilst e Jorge Amado.
c)
Rachel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto.
d)
José Lins do Rego e Carlos Drummond de Andrade.
e)
Guimarães Rosa e Cecília Meireles.
07. (UFPB-2006) No Romanceiro
da Inconfidência, Cecília Meireles recria poeticamente os acontecimentos
históricos
de Minas Gerais, ocorridos no final do
século XVIII. Nesta mesma época,
circulavam, em Vila Rica, as Cartas Chilenas, atribuídas a Tomás Antônio
Gonzaga. O fragmento a seguir foi extraído da Carta 2 em que Critilo (Gonzaga),
dirigindo-se ao seu amigo Doroteu (Cláudio
Manuel da Costa), narra o comportamento do Fanfarrão
Minésio (Luís da Cunha Meneses, governador de Minas).
Aquele, Doroteu,
que não é Santo
Mas quer
fingir-se Santo aos outros homens,
Pratica muito
mais, do que pratica,
Quem segue os
sãos caminhos da verdade.
Mal se põe nas
Igrejas, de joelhos,
Abre os braços
em cruz, a terra beija,
Entorta o seu
pescoço, fecha os olhos,
Faz que chora,
suspira, fere o peito;
E executa outras
muitas macaquices,
Estando em
parte, onde o mundo as veja.
(GONZAGA,
Tomás Antônio. Cartas Chilenas. São
Paulo:
Companhia das Letras, 1995, p. 68-69).
Considerando as informações apresentadas e esse fragmento
poético, é correto afirmar:
a) O autor
descreve as atitudes do governador de Minas sem fazer uso de um tom irônico.
b) O autor
critica algumas atitudes do governador de Minas, julgando-as dissimuladas.
c) O autor
descreve, com humor, o comportamento do governador de Minas, sem apresentar um
posicionamento crítico.
d) O tom
satírico, presente nas Cartas Chilenas, não é observado nesse fragmento,
pois, aqui, há apenas a descrição das práticas religiosas do Fanfarrão Minésio.
e) O autor chama
a atenção para o fato de que o governador de Minas age com fervor, longe dos
olhos dos fiéis.
08.
(UERJ-2001) UM BOI VÊ OS HOMENS
Tão
delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para outro lado, sempre
esquecidos de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se
apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente
graves,
até
sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam
tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos - e perde-se
a
um simples baixar de cílios, a uma sombra. Nada nos pelos, nos extremos de
inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes
e necessárias. Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se
fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo,
amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e
tombam
no
campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa
verdade.
(ANDRADE,
Carlos Drummond de. Reunião: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio,
1977.)
O
boi - o eu poético declarado no título - apresenta sua visão sobre os homens e
a eles se refere como “coitados”, expressando uma atitude de superioridade que
enfatiza, ao longo do texto, a fragilidade humana. O fragmento em que essa
fragilidade dos homens está explicitamente demonstrada pelo eu poético é:
a)
“Ah, espantosamente graves, / até sinistros.”
b)
“E ficam tristes / e no rasto da tristeza chegam à crueldade.”
c)
“Têm, talvez, / certa graça melancólica”
d)
“o translúcido / vazio interior que os torna tão pobres”
09. (Fatec-2007) Mãos dadas
Não
serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou
preso à vida e olho meus companheiros.
Estão
taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre
eles, considero a enorme realidade.
O
presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de
mãos dadas.
Não
serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não
direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da janela,
não
distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não
fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes,
a
vida presente.
Carlos Drummond
de Andrade, Sentimento do mundo (1940)
Considerando o
poema “Mãos dadas”, no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do mundo), é
correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade:
a)
recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.
b)
tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves
problemas mundiais.
c)
vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira.
d)
alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.
e)
relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a
arte deve priorizar o tema da união entre os homens.
10.
(UEPB-2006) Considere as afirmações de três críticos literários brasileiros a
respeito da poesia de Carlos Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto e
do Concretismo:
I. Partindo-se do dado
histórico de que foi No meio do caminho da renovação da poesia brasileira que a
obra de Drummond começou a aparecer como portadora de uma lição poética mais
sólida, embora, inicialmente, na direção nacionalista de seus contemporâneos, é
possível ver o conjunto de sua obra através de duas atitudes estilísticas. Na
verdade, são atitudes complementares, dois estágios que se prolongam: da
objetividade e da preocupação social. O poeta é realmente objetivo, mas no
sentido de que se encontra mais próximo das coisas. A exibição de termos e
construções do português brasileiro vai-se diluindo à medida que se aproxima de
1945, quando começam a predominar a contenção expressiva e a experiência
técnica, quase desconhecida dos primeiros livros. Realmente, é com Sentimento
do mundo e principalmente com A rosa do povo que os grandes temas sociais e
populares atingem os mais altos arremessos da poesia social no Brasil, desde
Castro Alves (Gilberto Mendonça Teles).
II. É com O engenheiro
(1945) e Psicologia da composição (1947) que o poeta atinge a maturidade
criativa. João Cabral passará a se distinguir pelo combate sistemático ao
sentimentalismo e ao irracionalismo em poesia, através de um processo de
desmistificação dos mitos que a cercam. Ao mesmo tempo que desaliena a poesia,
exibindo-lhe as entranhas, João Cabral procede a uma auto-análise da composição
poética, chegando a dissociar a imagem física da palavra, do seu conceito. Além
disso, o poeta-engenheiro fraciona os versos com uma técnica precisa de cortes
que lhes confere uma estrutura, por assim dizer, arquitetônica, funcional. Não
há, entretanto, em João Cabral, uma recusa ao “humano”; há, isto sim, uma
recusa do poeta a se deixar transformar em joguete de sentimentalismos
epidérmicos e a busca do verdadeiramente humano na linguagem, tomada em si
mesma, como fonte de apreensão sensível da realidade (Augusto de Campos).
III. A poesia concreta,
ou Concretismo, impôs-se, a partir de 1956, como a expressão mais viva e
atuante de nossa vanguarda estética. No contexto da poesia brasileira, o
Concretismo afirmou-se como antítese à vertente intimista e estetizante dos
anos 40 e repropôs temas, formas e, não raro, atitudes peculiares ao Modernismo
de 22 em sua fase mais polêmica e mais aderente às vanguardas europeias. Os
poetas concretos entenderam levar às últimas consequências certos processos
estruturais que marcaram o futurismo (italiano e russo), o dadaísmo e, em
parte, o surrealismo. São processos que visam explorar as camadas materiais do
significante. A poesia concreta quer-se abertamente antiexpressionista. Em
termos mais genéricos: o Concretismo toma a sério, e de modo radical, a
definição de arte como techné, isto
é, como atividade produtora (Alfredo
Bosi). Assinale a alternativa
correta
a)
Apenas II e III estão corretas
b)
Apenas I e II estão corretas
c)
Todas as afirmações são corretas
d)
Apenas III está correta
e)
Nenhuma afirmação está correta
11.
(UEL-2006) Conto “Feliz
Aniversário” (Laços de Família,
1960), de Clarice Lispector (1920-1977).
Na cabeceira da mesa, a
toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante
piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de
todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga
mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais
alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos
e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus
filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de
repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a
carne de seu coração.
Rodrigo, com aquela
carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e
intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas,
piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava.
Como?! Como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com
braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo
devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem
respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os
resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem
capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres
risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns
comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha.
Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e
com força insuspeita cuspiu no chão. (LISPECTOR,
Clarice. Feliz Aniversário. In: Laços de Família. 28. ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1995. p. 78-79.)
Ainda
que Clarice Lispector tenha morrido um dia antes de completar cinquenta e sete anos, a problemática das
mulheres de terceira idade faz-se presente em muitos de seus contos. “Feliz
Aniversário” registra tal tema. Neste conto, sentada à cabeceira da mesa
preparada para a comemoração de seu octogésimo-nono aniversário, D. Anita:
a)
Vê, horrorizada, sua descendência constituída por seres mesquinhos.
b)
Lembra-se, saudosa, da época em que seu marido era vivo e com ela dividia as
dificuldades cotidianas.
c)
Contempla seu neto, Rodrigo, a trazer-lhe ao presente a imagem do falecido
marido quando jovem.
d)
Rememora, com rancor, sua vida de mulher, seja enquanto esposa, seja enquanto
mãe, mostrando-se indignada com a atual falta de afeto de filhos, netos e
bisnetos.
e)
Mistura presente e passado, deixando emergir a saudade que há tempo domina seu
cotidiano.
12. (ITA-2003) A questão a seguir refere-se ao
poema “Canção”, de Cecília Meireles. Canção
Pus
o meu sonho num navio
e
o navio em cima do mar;
-
depois, abri o mar com as mãos
para
o meu sonho naufragar
Minhas
mãos ainda estão molhadas
do
azul das ondas entreabertas
e
a cor que escorre dos meus dedos
colore
as areias desertas.
O
vento vem vindo de longe,
a
noite se curva de frio;
debaixo
da água vai morrendo
meu
sonho, dentro de um navio… Chorarei quanto for preciso,
para
fazer com que o mar cresça,
e
o meu navio chegue ao fundo
e
o meu sonho desapareça.
Depois,
tudo estará perfeito;
praia
lisa, águas ordenadas,
meus
olhos secos como pedras
e
as minhas duas mãos quebradas
Cecília
Meireles, poeta da segunda fase do Modernismo Brasileiro, faz parte da chamada
“Poesia de 30”.
Sobre
esta autora e seu estilo, é CORRETO afirmar que ela:
a)
seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma poesia de
consciência histórica.
b)
não seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma obra de traços
parnasianos.
c)
seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, produzindo uma poesia panfletária e
musical.
d)
não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Modernismo Brasileiro, produzindo
uma poesia lírica, mística e musical.
e)
não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Modernismo Brasileiro, produzindo
uma poesia histórica, engajada e musical.
13. (ENEM-2006)
Esta
manhã acordo e
não
a encontro.
Britada
em bilhões de lascas
deslizando
em correia transportadora
entupindo
150 vagões
no
trem-monstro de 5 locomotivas
-
trem maior do mundo, tomem nota -
foge
minha serra, vai
deixando
no meu corpo a paisagem
misero
pó de ferro, e este não passa.
(Carlos Drummond de Andrade. Antologia
poética.
Rio de Janeiro: Record, 2000.)
A situação poeticamente descrita acima
sinaliza, do ponto de vista ambiental, para a necessidade de
I
manter-se rigoroso controle sobre os processos de instalação de novas
mineradoras.
II
criarem-se estratégias para reduzir o impacto ambiental no ambiente degradado.
III
reaproveitarem-se materiais, reduzindo-se a necessidade de extração de
minérios.
E correto o que se afirma
a)
apenas em I.
b)
apenas em II.
c)
apenas em I e II.
d)
apenas em II e III.
e) em I, II e III.
14. (UFMG-2007)
Assinale a alternativa que apresenta um trecho de manifesto, prefácio ou poema
modernista explicitamente programático com que a poesia de Viagem
tem afinidades.
a)
“A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição
milionária de todos os erros.
Como
falamos. Como somos.”
b)
“Alegria de inventar, de descobrir, de correr! Alegria de criar o caminho com a
planta do pé!”
c)
“Marinetti foi grande quando redescobriu o poder sugestivo, associativo,
simbólico, universal, musical da palavra em liberdade.”
d)
“O artista canta agora a realidade total: a do corpo e a do espírito, a da
natureza e a do sonho...”