segunda-feira, 24 de agosto de 2020

REALISMO e NATURALISMO

👉ENSINO MÉDIO - 2os. ANOS 

REALISMO/NATURALISMO 

SEMINÁRIOS 

          Da forma como planejamos, iniciaremos as apresentações dos seminários sobre importantes títulos do Realismo/Naturalismo.  


Figura 1 - Imagem de apresentação com foto de tela de Jean-François Millet como plano de fundo

          

          Como tenho defendido em minhas aulas, vale salientar a importância das artes plásticas para o nosso estudo. Dessa forma, quando tratamos de Realismo/Naturalismo, é fundamental destacar a obra de alguns artistas como: Jean-François Millet, George Clausen, Gustave Courbet, Marques de Oliveira e outros. Nesse sentido, lembro as palavras de Pereira (2009, p. 359):

A escrita sempre pressupôs a imagem, mesmo anteriormente à sua fonetização, como, por exemplo, nos primitivos desenhos das cavernas, que ainda não obedeciam a nenhum código de representação gráfica, ou na escrita egípcia e chinesa com os seus ideogramas, que se afastam do figurativo.

          Nessa visão mesma, quero frisar a relevância da perspectiva plástica na interface com a icônica. Para ser mais claro, Silva (2018, p. 131) esclarece que "o signo plástico está associado a um índice ou a um símbolo", ao passo que, "o signo icônico é aquele que o significante (estímulo visual) está vinculado a um referente (objeto particular que se pode ter uma experiência visual)..."           

         No campo das letras, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) introduz o Realismo no Brasil com seu livro Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).  

            Neste percurso inicial, vale a pena elencar parte da bibliografia de Machado de Assis, vejamos:

1864 - Crisálidas.

1872 - Ressurreição.

1873 - Histórias da Meia-Noite.

1874 - A Mão e a Luva.

1875 - Americanas.

1876 - Helena 

1878 - Iaiá Garcia

1881 - Tu só, tu, Puro Amor e Memórias Póstumas de Brás Cubas (como já mostrei acima).

1882 - Papéis Avulsos.

1884 - Histórias sem Data.

1886 - Banquete das Crisálidas.

1891 - Quincas Borba.

1896 - Várias Histórias .

1899 - Páginas Recolhidas e Dom Casmurro.

1901 - Poesias Completas. 

1904 - Esaú e Jacó

1906 - Relíquias da Casa Velha.

1908 - Memorial de Aires


          Para os seminários, apresento as seguintes sugestões:



                           Figura 2 - Imagem com capas de livros de autoria de Machado de Assis

           No caso do Naturalismo, destaco a publicação de O Mulato, de Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857-1913), como obra introdutório desse estilo de época. 

Outras publicações:

1884 - Memórias de um Condenado

1890 - O Cortiço

1894 - Casa de Pensão

1938 - O Touro Negro (crônica)


          Para os seminários, sugiro os títulos abaixo:


Figura 3 - Imagem com capas de livros de autoria de Aluísio Azevedo



          Na sequência, ressalto o livro Ateneu (publicado em 1888), de Raul D'Ávila Pompeia (1863-1895). Tendo em vista a relevância da obra, prefiro comentar por último, porque, como bem destaca Cereja (2009, p. 314), "as diferentes classificações atribuídas à obra, tais como realista, naturalista, psicologista, parnasiana, evidenciam sua complexidade e singularidade". Nesse sentido, ofereço mais um título de enorme prestígio na literatura brasileira. 
             A seguir, exponho a imagem da capa do livro O Ateneu:



Figura 4 - Imagem de capa de livro de autoria de Raul Pompeia


            Para as apresentações dos seminários, os estudantes deverão seguir a mesma dinâmica da unidade passada, quando tratamos da prosa no Romantismo. Assim, os trabalhos podem ser expostos em grupo (ou individualmente) na videoconferência de terça-feira 25/8/2020



Figura 5 - Imagem de formulário de inscrição


Referências


BOSI. Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Coltrix, 1977. 

CEREJA, William Roberto. Literatura Brasileira: em diálogo com outras literaturas e outras linguagens. São Paulo: Atual, 2009.

PEREIRA,  Nice M. Literatura, ilustração e o livro ilustrado. In BONNICI, T.; ZOLIN, L. O (Orgs.) Teoria Literária: Abordagens Históricas e Tendências Contemporâneas. 3 ed. Maringá: UEM, 2009.

SILVA, Leonardo Ferreira da. Linguagem visuoverbal: letramento, ensino e produção de sentido. Olinda: Livro Rápido, 2018.



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🙋     AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA  LITERATURA

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01. (Unifesp-2003) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913).

O cortiço

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

Os sinos da vizinhança começaram a badalar.

E tudo era um clamor.

A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.

Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.

(Aluísio Azevedo. O cortiço)

Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:

a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.

b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...

d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.

e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada...

02. (ENEM-2001) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.)

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) ... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...

b) ... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...

c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, ...

d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...

e) ... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

03. (PUC - PR-2007) Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.

a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.

b) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes.

c) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.

d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu Madame Bovary.

e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.

04) (FMTM-2002) Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. (...)

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

No Naturalismo, época literária a que pertenceu Aluísio Azevedo, o homem é visto

a) de forma negligente e egocêntrica, preocupado apenas com o próprio bem-estar.

b) de forma atuante, responsável pela transformação do mundo em que vive.

c) de forma idealista e romântica, alheio a tudo que acontece a seu redor.

d) como responsável pelas condições do meio em que vive e capaz de melhorá-lo.

e) como fruto do meio em que vive, sujeito a influências que escapam a seu controle.

05) (UEMG-2007) Assinale a alternativa em que se identificou CORRETAMENTE elementos estruturais do romance Dom Casmurro.

a) A obra apresenta um texto em terceira pessoa, em que o protagonista central, Bentinho, é abandonado por Capitu, em virtude dos ciúmes exagerados desta.

b) O narrador de primeira pessoa escreve o romance, buscando a ilusão de resgatar o seu passado através de sensações revivenciadas no presente, tentando explicar a sua “casmurrice” e, com ela, a sua própria vida.

c) O romance é narrado em primeira pessoa por D.Casmurro, que deseja registrar, memorialisticamente, o seu passado glorioso e cheio de atos dignos de serem revivenciados.

d) A narração do romance obedece ao único propósito de registrar os momentos felizes de Bentinho, vivenciados ao lado de Capitu, o que explica, em parte, a tendência do narrador pelas minúcias e pelo detalhismo.

06. (UEL-2006) Capítulo de Quincas Borba (1892), de Machado de Assis (1839-1908).

Rubião fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa.

Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

- Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...

(ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Jackson, 1959. p. 7.)

Com base no primeiro parágrafo do texto, considere as afirmativas a seguir.

I. O narrador, no presente, dirige suas palavras ao leitor de seu texto, conforme se pode deduzir do emprego de “vos digo”.

II. As palavras do narrador dizem respeito a um momento de meditação de Rubião sobre sua mudança de classe social, momento este do qual o narrador onisciente tem pleno conhecimento.

III. O emprego de “olha” e “entra” no tempo presente reflete o apego que o protagonista tem à sua nova condição econômica, tentando esquecer o passado.

IV. “Visse” e “cuidaria” aí estão para registrar uma possibilidade de interpretação que, na verdade, condiz com o que realmente é relatado pelo narrador.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e IV.

c) III e IV.

d) I, II e III.

e) II, III e IV.

07) (UEPB-2006) Considere o fragmento final de O alienista:

Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada.

Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco além dele em Itaguaí; mas esta opinião, fundada em um boato que correu desde que o alienista expirou, não tem outra prova senão o boato; e boato duvidoso, pois é atribuído ao padre Lopes, que com tanto fogo realçara as qualidades do grande homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade.

Assinale a proposição que NÃO condiz com o excerto citado.

a) A referência a um boato duvidoso lembra um traço marcante da prosa de Machado de Assis e que se constitui num dos pontos centrais de toda a sua obra: a elipse. A elipse, ao deixar “espaços de incerteza”, algo por dizer, como lembra todo leitor do Dom Casmurro, possibilita ao escritor romper com o cientificismo dos naturalistas na própria estrutura do texto.

b) O fragmento citado demonstra a crítica e ironia de Machado de Assis contra aqueles que, a exemplo de “Simão Bacamarte”, erigem verdades fechadas e absolutas como modelos de ação e controle psíquico-social.

c) O fragmento citado traz a linguagem direta e em muitos aspectos cotidiana da prosa de Machado de Assis, que participou ativamente dos ambientes de escrita de seu tempo, de revistas de moda a jornais, sem, contudo, abdicar de uma profunda consciência da literatura e do homem.

d) O fragmento acima demonstra que, numa sociedade como a nossa, cheia de contradições e ainda pouco capaz de dar cidadania efetiva aos seus cidadãos, a atitude do intelectual, como “Simão Bacamarte” (e, por extensão, o próprio Machado de Assis), só pode ser a de primeiro resolver seus próprios problemas pessoais para só depois pensar na sociedade como um todo. Demonstra que os intelectuais do Realismo chegaram à conclusão de que os românticos, que se preocupavam sobretudo com o indivíduo, tinham razão.

e) O fragmento final d’O alienista revela o tom “decadente” e pessimista que está na maioria dos textos significativos de Machado de Assis e que o situam como um dos precursores do Simbolismo no Brasil. O decadentismo machadiano, a que diversos críticos literários chamaram atenção, pode ser observado também nos fragmentos finais de Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba, e em contos como A causa secreta, Cantiga de esponsais e Pai contra mãe.

08. (FGV-2006) Leia o texto abaixo.

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.

- Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto:

- Gatuno, sim senhor. Não é outra coisa um filho que me faz isto...

Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara. - Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.

Machado de Assis

Principalmente a partir da publicação dessa obra, duas características passam a ser reconhecidas no estilo de seu autor. Assinale a alternativa que as contém.

A) Ambiguidade e delicadeza na descrição dos caracteres.

B) Humor escancarado e crítica à família tradicional brasileira.

C) Ironia e análise da condição humana.

D) Crítica ao comportamento do indivíduo como sujeito e não como objeto da sociedade.

E) Análise da alma do indivíduo, desconsiderando a sociedade.

09. (Fuvest-2005) “Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou--lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: - Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: - Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia”.

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

A vida de Dona Plácida, referida no excerto, é muito semelhante à vida de trabalhos duros e incessantes de Juliana (O primo Basílio), com a diferença de que a personagem de Eça de Queirós

a) não mais se fiava no favor dos patrões, passando a arquitetar um plano astucioso, embora indigno, para emancipar-se.

b) não era uma agregada, como Dona Plácida, mas uma criada, condição que a tornava ainda mais desprovida de direitos legais.

c) pautava sua conduta por uma rígida moral puritana, que a fazia revoltar-se contra os amores adúlteros da patroa.

d) tinha menos motivos para revoltar-se, tendo em vista a consideração de que gozava na casa dos patrões.

e) não temia miséria nem desamparo e, por isso, enfrentava os patrões de modo aberto e corajoso.

10. (Fuvest-2004) Texto para a questão a seguir

Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância, nunca em toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola, senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa de seu, adorava o filho e trazia-o amimado, asseado, enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou perseguir lagartixas nos morros do Livramento e da Conceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous peraltas sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o Quincas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia sempre um papel de rei, ministro, general, uma supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e gravidade, certa magnificência nas atitudes, nos meneios. Quem diria que… Suspendamos a pena; não adiantemos os sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa independência política, e do meu primeiro cativeiro pessoal.

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

É correto afirmar que as festas do Espírito Santo, referidas no excerto, comparecem também em passagens significativas de

a) Memórias de um sargento de milícias, onde contribuem para caracterizar uma religiosidade de superfície, menos afeita ao sentido íntimo das cerimônias do que ao seu colorido e pompa exterior.

b) O primo Basílio, tornando evidentes, assim, as origens ibéricas das festas religiosas populares do Rio de Janeiro do século XIX.

c) Macunaíma, onde colaboram para evidenciar o sincretismo luso-afro-ameríndio que caracteriza a religiosidade típica do brasileiro.

d) Primeiras estórias, cujos contos realizam uma ampla representação das tendências mágico-religiosas que caracterizam o catolicismo popular brasileiro.

e) A hora da estrela, onde servem para reforçar o contraste entre a experiência rural-popular de Macabéa e sua experiência de abandono na metrópole moderna.

11. (Faap-1996) OLHOS DE RESSACA

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momentos houve que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

Machado de Assis

Texto extraído do romance:

a) "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

b) "Dom Casmurro"

c) "Quincas Borba"

d) "Esaú e Jacó"

e) "Memorial de Aires"

12. (Fuvest-2003) Tanto Luísa (O primo Basílio) quanto Virgília (Memórias póstumas de Brás Cubas) praticaram o

adultério

a) por influência direta do excesso de leituras romanescas.

b) com parentes próximos, o que tornava mais grave a situação moral de ambas.

c) com o fim de ascender socialmente, unindo-se a parceiros de classe social mais elevada.

d) por sua própria iniciativa, seduzindo abertamente seus respectivos parceiros.

e) com antigos namorados, que reencontraram depois de casadas

13. (UFSE-1997) A originalidade do ponto de vista do narrador de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS permitiu que Machado de Assis escrevesse um romance.

a) de caráter fantástico, no qual pôde desenvolver sua aptidão para a literatura com fundamentos surrealistas.

b) essencialmente irônico, ao mesmo tempo em que dotava o narrador de uma distância crítica incontestável.

c) em terceira pessoa, contrariando a índole confessional que marcara toda a sua ficção anterior.

d) realista, a partir de um narrador que tudo observara e documentara em páginas só publicáveis depois de sua morte.

e) satírico-histórico, cujo argumento remontava ao tempo das capitanias hereditárias, no Brasil colonial.

14. (FEI-1995) Leia com atenção:

"Em seu último romance, Machado de Assis revela-nos uma outra face. O romancista espiritualiza-se, afastando-se da análise das desgraças humanas. Sensíveis mutações ocorrem, então, em seu espírito, refletindo desprendimento e abnegação. Reconhece-se no casal Aguiar e D. Carmo o próprio romancista e D. Carolina, acentuando a coincidência das iniciais: Aguiar e Assis, Carmo e Carolina, além dos traços autobiográficos na descrição do casal harmônico".

Trata-se do romance:

a) "Quincas Borba"

b) "Esaú e Jacó"

c) "Ressurreição"

d) "D. Casmurro"

e) "Memorial de Aires"

15. (Mack-2002) Assinale a alternativa INCORRETA sobre o estilo de Machado de Assis.

a) Sua linguagem irônica e sarcástica está relacionada à quebra de valores absolutos.

b) A linguagem metafórica, usada com frequência, concretiza conceitos e juízos de valor.

c) Realizou rupturas na organização linear do texto narrativo, impondo outra lógica à sequência de capítulos.

d) Utilizou-se com frequência da metalinguagem, fazendo referências ao próprio ato de narrar.

e) A ruptura com a tradição literária deu origem a um estilo irreverente, afastado da norma culta.

16. (Fuvest-2000) Óbito do autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas, capítulo primeiro)

Considerando-se este fragmento no contexto da obra a que pertence, é correto afirmar que, nele,

a) o discurso argumentativo, de tipo racional e lógico, apresenta afirmações que ultrapassam a razão e o senso comum.

b) a combinação de hesitações e autocrítica já caracteriza o tom de arrependimento com que o defunto autor relatará sua vida improdutiva.

c) as hesitações e dúvidas revelam a presença de um narrador inseguro, que teme assumir a condução da narrativa e a autoridade sobre os fatos narrados.

d) as preocupações com questões de método e as reflexões de ordem moral mostram um narrador alheio às meras questões literárias, tais como estilo e originalidade.

e) as considerações sobre o método e sobre a lógica da narração configuram o modo característico de se iniciar o romance no Realismo.

17 (PUC-SP-2001) O conto “A Cartomante” integra a obra Várias Histórias de Machado de Assis. Dele é incorreto afirmar que

a) se desenvolve a partir da afirmação de Horácio de que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.

b) apresenta um triângulo amoroso no qual Rita, casada com Vilela, o atrai com o amigo Camilo.

c) caracteriza a personagem feminina como uma dama formosa e tonta e mostra-a insinuante como uma serpente.

d) apresenta um final feliz já que a previsão da cartomante sobre o amor dos dois realiza-se plenamente.

e) se trata de uma narrativa tradicional com estrutura bem definida, conduzindo a história para um clímax inesperado, o chamado elemento surpresa.

18. (ITA-2000) Sobre O Ateneu, de Raul Pompeia, NÃO se pode afirmar que:

a) o colégio Ateneu reflete o modelo educacional da época, bem como os valores da sociedade

da época.

b) o romance é narrado num tom intimista, em terceira pessoa.

c) a narrativa expressa um tom de ironia e ressentimento.

d) as pessoas são descritas, muitas vezes, de forma caricatural.

e) são comuns comparações entre pessoas e animais.

19.  (UFMG-1998) No romance O Ateneu, de Raul Pompeia, o personagem Aristarco, que apresenta um "vaivém de atitudes", é visto como portador de uma "individualidade dupla". Todas as alternativas contêm trechos do romance em que Aristarco passa de uma atitude a outra, exceto:

a) Quando meu pai entrou comigo havia no semblante de Aristarco uma pontinha de aborrecimento. (...) Mas a sombra de despeito apagou-se logo, como o resto de túnica que apenas tarda a sumir se numa mutação à vista; e foi com uma explosão de contentamento que o diretor nos acolheu.

b) Aristarco, que consagrava as manhãs ao governo financeiro do colégio, conferia, analisava os assentamentos do guarda-livros. De momento a momento entravam alunos. Alguns acompanhados. A cada entrada, o diretor lentamente fechava o livro comercial, (...) oferecendo episcopalmente a mão peluda ao beijo contrito e filial dos meninos.

c) (...) viam-no (Aristarco) formidável, com o perfil leonino rugir (...) sobre outro (aluno) que tinha limo nos joelhos de haver lutado em lugar úmido, gastando tal veemência no ralho, que chegava a ser carinhoso.

d) A cadeira girava de novo à posição primitiva; o livro da escrituração espalmava outra vez as páginas enormes; e a figura paternal do educador desmanchava-se volvendo a simplificar se na esperteza atenta e seca do gerente.

 


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